Os Racionais MC's se apresentam nesta sexta-feira no Planeta Atlântida. Leia entrevista com o vocalista Edi Rock.
Vocês ficaram muito tempo sem lançar um disco e, em 2014, lançaram Cores & Valores, que tem uma concepção um pouco diferente dos outros álbuns dos Racionais. Como foi a produção deste disco?
Todo mundo fala que este disco é diferente dos outros, mas eu não vejo tanta diferença. É só um disco mais curto, que acompanha a evolução musical do mundo. Hoje, a informação está muito mais rápida, então eu procuro fazer músicas mais curtas, para você ter a vontade de ouvi-la de novo. Quando ouço música, não quero ficar cinco, 10 minutos ouvindo. Ouço três minutos e já mudo para outra. Como os Racionais fazem crônicas, e as coisas acontecem muito rápido, nossas músicas acabam sendo um espelho disso. O pessoal ainda está entendendo o Cores & Valores – nossos discos sempre demoram para ser entendidos. O Nada Como um Dia Após o Outro Dia demorou, o pessoal achava que Vida Loka 2 era ostentação. Hoje, é um hino. Demora uns dois anos para o pessoal compreender o que a gente quer dizer. Hoje, como a gente já está mais bonzinho, dando entrevista, o pessoal absorve mais rápido, as músicas já são cantadas nos shows.
O público do Racionais mudou?
Você tem que estar atualizado, acompanhar a tendência da juventude, que é o nosso público. O fã do rap se renova, e ele se renovou mais uma vez. Hoje, muitos que ouvem e curtem Racionais cresceram nos escutando, mas muitos não conheciam e estão conhecendo agora, neste novo disco.
E o próximo disco dos Racionais vai demorar tanto tempo para sair, como o mais recente?
Nessa ideia de disco menor, músicas menores, a gente vai procurar soltar mais trabalhos em menos tempo. Já estamos trabalhando no novo disco, que é uma continuação deste. Eu ouço muita coisa, então sai muita coisa.
Desde que os Racionais começaram, o Brasil mudou muito, inclusive socialmente. Isso faz com que o rap tenha uma nova cara?
O rap ainda é a ferramenta mais próxima da periferia, do negro. E sempre foi contra a maré. No início, era uma música de protesto. Hoje, você tem liberdade de expressão, fala o que quiser. Hoje, muitos rappers estão trilhando outro caminho, do business, algo que não está errado. Tem que brilhar mesmo, fazer caixa, tratar a sua imagem como empresa. O rap gera emprego, tem mercado e, por isso, os rappers novos têm mesmo que pensar no futuro, na família. Mas, por ser um ritmo que tem como característica ser linha de frente nas questões sociais, o rap absorveu novas lutas. A essência de dar voz, de levantar bandeiras sociais, a mensagem de andar de cabeça erguida, de ter orgulho das suas origens, isso o rap nunca vai perder.
Com décadas de carreira, qual é a fórmula para se manter relevante?
Não sei. O que eu posso fazer é agradecer ao público, que é fiel, que espera pelo trabalho novo. O nosso público ama as músicas dos Racionais, a nossa história, até porque são pessoas que cresceram nos ouvindo. As músicas dos Racionais marcaram muito a vida de muitas pessoas. É isso que nos mantêm. A gente só procura manter e respeitar isso. Mas o legal é ver que o nosso público está renovado. Já passaram duas gerações, hoje tem gente que vai no show com filho de 12 anos.
Em relação à época em que vocês começaram, é mais fácil fazer rap hoje em dia?
Os Racionais estouraram com Homem na Estrada, que xingava a polícia. Aquilo era proibido, era uma ofensa à autoridade. Isso foi colocado em debate, e sempre foi dito que a gente tinha o direito à liberdade da expressão – mas, nos bastidores, a gente sempre foi perseguido. Sofremos represália por um bom tempo. O rap tem como característica bater de frente, debater, querer saber o que está acontecendo. Mudou muita coisa, mas os caras só querem uma brecha para vir para cima. Só precisa de uma faísca.