Tim Roth estava lá quando tudo começou em Cães de Aluguel (1992). Um dos mais prestigiados atores ingleses de sua geração, o astro trabalhou depois sob a direção de Quentin Tarantino em Pulp Fiction (1994) e Grand Hotel (1995). No final de novembro passado, Roth veio ao Brasil com o diretor americano para divulgar o novo filme da dupla: o western Os Oito Odiados, no qual encarna um janota inglês que diz ser o enforcador da cidade de Red Rock. O filme está em cartaz na Capital.
Daniel Feix: Tarantino demonstra maturidade em "Os Oito Odiados"
Intérprete eclético com uma extensa filmografia, indicado ao Oscar de ator coadjuvante por Rob Roy (1995) e diretor do potente drama familiar Zona de Conflito (1999), Roth falou em São Paulo com Zero Hora:
Qual foi a coisa mais excitante em interpretar Oswaldo Mobray?
Nunca tinha feito um western, estou muito feliz por causa disso! Eu gosto da atuação da velha guarda. Foi uma chance de não atuar discretamente e reviver aqueles personagens ingleses de faroestes dos anos 1950 e 1960. Foi uma chance de dançar com o personagem e ser corajoso. Adorei!
Você vê algum paralelo entre o clima de tensão racial em Os Oito Odiados e os Estados Unidos de hoje?
Nos primeiros dias de leitura e ensaio do filme em Los Angeles, aconteceu Ferguson (referência aos protestos e confrontos que estouraram na cidade americana depois que um policial branco matou um adolescente negro, em 9 de agosto de 2014). As discussões do roteiro eram as mesmas de Ferguson! Era ainda o mesmo problema americano. O roteiro foi escrito antes disso acontecer. Quentin é fascinado pelo holocausto americano (massacre dos povos indígenas), a escravidão, a supremacia branca, a imigração de europeus para os EUA e temas correlatos. Mas ele diz que só podemos contar uma história e temos que contá-la certo.
Que lembrança você tem de seu papel em Cães de Aluguel?
O que eu gostei no Mr. Orange é que eu era um ator inglês fingindo ser um americano fingindo ser um bandido, fingindo ser um tira. Isso fodeu com a minha cabeça! Eu dancei mais com Os Oito Odiados.
Como é ser dirigido por Quentin Tarantino?
Acho que agora Quentin encontrou uma forma mais tranquila de criar o set. Eu ficava olhando o Quentin dirigindo, é um ótimo show assisti-lo trabalhar. Ele cria uma atmosfera muito louca no set, porque tem música tocando todo tempo, pessoas fazendo piadas, não são permitidos celulares... É um clima muito divertido e criativo. Os diálogos de Quentin são muito musicais, todos temos que ser capazes de chegar a esse tom. Quando fazemos leituras, é preciso transformá-los em algo fluido. Ele fazia várias tomadas até chegar naquele momento mágico. Acho que conseguimos captar isso em algumas cenas.
O que você acrescentou a seu papel em Os Oito Odiados?
Quentin escreveu o personagem para mim. O que nós tentamos fazer foi identificar essa estranha "inglesidade" dos filmes de Terry-Thomas (excêntrico comediante inglês) e de alguma forma reproduzi-la em Oswaldo Mobray de uma forma muito diabólica.
Você se sente à vontade com toda aquela violência e banhos de sangue dos filmes de Tarantino?
Sim, é engraçado! Quando enfim paramos de atirar, pensamos: "Oh, que gente ruim nós somos!" (risos) Mas eu acho que a abordagem que ele faz da violência é teatral, operística. E, às vezes, essa abordagem fica muito realística, o que é assustador... Mas é apenas cinema.
Confira o trailer de Os Oito Odiados: