Hoje é um raro dia de festa para um dos mais badalados moradores do Upper East Side, na ilha de Manhattan. Diretor e roteirista de 45 longas-metragens, Woody Allen chega aos 80 anos precisando se defender da acusação de abuso sexual por parte da filha adotiva Dylan Farrow, 29. Ao mesmo tempo, luta contra o senso comum que aponta para a queda na qualidade de seu trabalho.
De fato, um olhar em perspectiva indica que seus melhores momentos ficaram em décadas passadas. Mas também é verdade que o cineasta, um dos mais cultuados e imitados da atualidade, conseguiu se reinventar ao delegar a outros atores a tarefa de encarnar os alter egos que protagonizam os seus filmes. Além disso, nunca levou tanta gente aos cinemas como agora: Meia-Noite em Paris (2011) faturou US$ 151 milhões, e Blue Jasmine (2013), US$ 98 milhões - números superiores a títulos de sua fase mais festejada, nos anos 1970 e 80, quando arrecadava, apenas nos EUA (na época, as produtoras norte-americanas não possuíam registros de bilheteria em todo o mundo), quantias entre US$ 30 milhões e US$ 40 milhões.
- Gênio, eu? Sou só um humorista do Brooklyn que deu sorte - disse certa vez o neurótico mais lúcido de Hollywood, ao ser perguntado sobre seu poder de influência.
O certo é que o encantamento dos fãs não diminui. Pelo contrário. Em tempos de distância crescente entre o cinema popular e aquele prestigiado pelos críticos, não é errado tratá-lo como fenômeno - são poucos os artistas com tamanha aceitação entre esses dois extremos cada vez mais apartados.
Está aí um de seus segredos: a capacidade de se comunicar com as mais diferentes plateias sem subestimá-las. Das comédias pastelão aos dramas "dostoievskianos", Allen tem imensa facilidade para trabalhar camadas de significação, costurando piadas tolas e referências eruditas com naturalidade.
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Um dos clichês envolvendo sua obra é aquele que diz que ele é bom no registro cômico e ruim no dramático. Bem antes do ótimo Match Point (2005), essa falsa verdade já estava desconstruída com, por exemplo, o tocante Crimes e Pecados (1989). E para quem afirmava, após a fraca sequência do início dos anos 2000, que o cineasta teria perdido a graça? A tese no mínimo enfraqueceu com Vicky Cristina Barcelona (2008), Tudo Pode Dar Certo (2009) e Meia-Noite em Paris (2011).
Não faz muito tempo, perguntado sobre a morte, Allen foi sucinto:
- Sou radicalmente contra.
É com trabalho que o cineasta se mantém firme: em 2016, manterá a média de lançar um longa por ano com um novo filme e, além disso, uma série de TV, que dirigirá para a Amazon. Aos 80 anos, Woody Allen não para.
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