Luciano Alabarse: ultraje à inteligência

Piaget ensinou que crianças, até certa idade, são essencialmente egocêntricas, pois falam, em primeiro lugar, para ouvirem a si próprias. Parece que a maioria dos nossos políticos também. Não falam mais para a sociedade; balbuciam frases para si mesmos, pouco importando o que nós, simples mortais, pensamos de seus malabarismos verbais.

Eduardo Cunha e Delcídio do Amaral são deletérios. As gravações de Delcídio tentando subornar o filho de Nestor Cerveró são estarrecedoras. O depoimento de Cunha ao Jornal Nacional, seguido das tantas evidências que o contradisseram, foi um ultraje à inteligência da nação. Atenção: não estou falando de partidos nem generalizando. Estou nomeando homens que deixam o mundo pior do que está. Como bem disse o ministro, imunidade não pode ser confundida com impunidade. Bom ver que a Lava Jato não vai acabar em pizza. Mas que tampouco se transforme em caça às bruxas. Instituições fortalecidas, sim, mas ampla defesa a todos os acusados.

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Começo a ler a Zero Hora pela Contracapa do Roger e pulo para as páginas de política. Quando, feliz como pinto no lixo, reparti mesa com Rosane Oliveira e Moisés Mendes no restaurante do jornal, vi como esses dois jornalistas incríveis falavam com Jairo Jorge e Marcos Bósio. Repartimos ali, eu e Daniel Weller, o Oscar de Melhor Coadjuvante. Inteligência faz toda a diferença.

Zonas diferenciadas de pensamento perpassam todas as dimensões da vida humana. Pode haver vida inteligente nas disputas de opinião. Os motivos de Marcelo Rech para nos orgulharmos de Porto Alegre e o artigo em que Ismael Caneppele detonou a cidade, ambos publicados aqui, me fizeram rir, tão divertidos e complementares me pareceram. Oito e oitenta. O caminho, penso, está no meio.

Tinha a intenção de escrever sobre Os Detetives Selvagens, de Roberto Bolaño, uma aula magna de literatura. Mas não consegui falar de livros, música ou teatro. Hoje, a coluna vai para o Moisés e para a Rosane. Política também é cultura.