David Mamet, dramaturgo e cineasta norte-americano, tem dois excelentes livros lançados no Brasil: Os Três Usos da Faca e Sobre Direção de Cinema. Eu os sugiro para meus alunos, mesmo que não concorde com tudo que o autor afirma, em especial a sua convicção de que os melhores atores são os que quase não atuam, já que todo o drama tem que estar no roteiro. Mas concordo com uma ideia central de Mamet: a dramaturgia é feita, antes de tudo, para encantar as pessoas.
Quem quer mudar as pessoas, ou mudar o mundo, deve procurar carreira na política, no jornalismo, em relações internacionais, em serviço social, ou trabalhar numa ONG que combata injustiças. Com certeza não vai faltar serviço. Quem quer trabalhar com drama - fazendo teatro, cinema, TV ou equivalente - deve saber que seu desafio é criar um encantamento poderoso, que leve o espectador a entrar num mundo muito mais rico, complexo e divertido que este em que vivemos. Fazendo isso, diz Mamet, o dramaturgo fica dispensado de lavar a louça.
A quinta temporada de Homeland atingiu - o que não é novidade na série - pontos de extraordinária força dramática. Carrie Mathison enfrentou desafios poderosos na Alemanha, desta vez envolvendo também agentes russos e israelenses. A atuação de Claire Danes é extraordinária. Já viram como ela consegue interpretar com os músculos do queixo, que treme nos momentos mais tensos? O Mamet que me perdoe, mas a dramaturgia também é feita pelas atrizes e pelos atores.
As críticas mais fortes a Homeland são políticas. A série, que foi criada em Israel e mais tarde desenvolvida nos EUA, é acusada de (é claro que estou simplificando) mostrar os terroristas como criminosos. E, nessa temporada, sobraram alusões à Rússia como potência "do mal". Os acusadores, porém, esquecem de dizer que a própria CIA é retratada como um órgão corrupto e corruptor, cheio de pessoas egoístas e mal-intencionadas e, por absoluta incompetência, responsável por muita dor em todo o planeta. Homeland é um drama televisivo feito para encantar as pessoas. Ponto. Mas, mesmo assim, faz uma força danada pra não cair em dicotomias ideológicas ou religiosas. Pra mim tá bom. Carrie, volta logo! Eu lavo a louça pra ti.