Um dos períodos mais conturbados períodos da história brasileira e suas consequências na sociedade atual serão tema de debate nesta quinta-feira na Feira do Livro. Às 18h30min, a psicanalista Maria Rita Kehl, que integrou a Comissão Nacional da Verdade (CNV), sobe ao palco do Auditório Barbosa Lessa do CCCEV (Andradas, 1.223) para um bate-papo com o público sobre o tema "Conformismo e Violência". Para ela, a falta de punições mais rigorosas para crimes praticados pelo Estado ao longo do regime militar iniciado em 1964 deixou marcas profundas na sociedade atual:
- Nossa anistia deixou um recado de que a violência de estado não foi considerada grave. Na Argentina, por exemplo, generais e presidentes foram condenados. Isso é espetacular, mostra que a coisa foi séria. Creio que uma parte da violência da sociedade brasileira é consequência de um espírito pseudo-pacífico, que na verdade é covardia e conformismo. Como não colocamos um fim rigoroso neste passado, a violência se repete.
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Como exemplo da herança deixada pelo período histórico, a psicanalista cita os excessos policiais:
- Nossa polícia continua militar e mata mais na democracia do que matou em toda a ditadura, dado já apontado em pesquisa.
Jornalista, Maria Rita é autora de livros como O Tempo e o Cão - A Atualidade das Depressões e Processos Primários e participou da imprensa alternativa nos anos de ditatura. Em 2010, ela foi indicada pela presidente Dilma Rousseff para participar da CNV, comissão que foi acusada de revanchista por setores mais conservadores da sociedade.
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- Afirmar que a CNV é revanchismo é como dizer que prender o ladrão que entrou na casa de alguém é revanchismo. É um discurso de má-fé. Muitos dos que reclamam usando este argumento sabem que ele não é verdadeiro, mas um público mais alienado embarca na onda - avalia a psicanalista.
Atualmente, Maria Rita participa do debate público em artigos que circulam na imprensa e na internet. Recentemente, ela classificou o projeto de lei 5069/2013, que torna crime induzir ou auxiliar uma gestante a abortar, como uma "repulsa inconsciente à sexualidade feminina" no jornal Folha de S. Paulo. Já sobre os atuais relatos sobre primeiro assédio que circulam pelas redes sociais, a psicanalista espera que não estimulem o crescimento de uma ideologia puritana semelhante à dos EUA na sociedade brasileira:
- É muito importante que a questão do assédio seja denunciada. Mas não gostaria que nós, mulheres, passássemos a ficar ofendidas com qualquer aproximação masculina que não seja "com licença, posso dirigir a palavra à senhorita". É um tema muito delicado, pois não sei qual é a fronteira entre o assédio e a cantada divertida, ela é estabelecida empiricamente. Há muitas nuances neste debate.