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Em 2012, tive a oportunidade de assistir, em São Paulo, à Ópera dos Três Vinténs, de Bertolt Brecht, montagem do Berliner Ensemble, com direção de Bob Wilson. Em tantos anos trabalhando como atriz nas montagens brechtianas do Teatro Vivo, com direção de Irene Brietzke, nunca havia assistido a montagem alguma dessa peça, embora tivesse cantado em cena boa parte de suas canções.
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Enquanto esperava o espetáculo iniciar, já alvoroçada com a orquestra que tocava as músicas conhecidas, lembrei de outro momento emocionante acontecido muito tempo antes, também relacionado a essa Ópera.
Foi no Rio de Janeiro, em 1978, esperando para assistir à Ópera do Malandro, de Chico Buarque de Hollanda. Em cena, Ary Fontoura, Otávio Augusto, Maria Alice Vergueiro, Marieta Severo e Elba Ramalho, entre outros. Chico dizia que fora Ruy Guerra quem o alertara sobre as possibilidades de adaptar a ópera brechtiana, inspirada por A Ópera do Mendigo, de John Gay, para o Brasil.
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A Ópera do Berliner com Wilson me encantou, na maturidade, pela invenção de tempos e espaços - com a já emblemática iluminação do encenador. Assisti totalmente embevecida pela excelência da relação entre encenação e dramaturgia, pela ousadia dos atores e da montagem, brechtiana e contemporânea.
Já a lembrança do Malandro me trouxe a memória da mocidade, da jovem atriz perturbada com as possibilidades da releitura, com a ginga da brasilidade posta na criação alemã. As músicas inesquecíveis.
Nos dois casos, a intensidade das atuações, a pujança dos diálogos e das relações entre os personagens me provoca até hoje e me reaviva a paixão do teatro. Assim, sempre é tempo de conferir essa rede de óperas posta em cena. A cena que é, ainda, o lugar onde as ideias tornam-se ações.
*Mirna Spritzer é atriz