Reprodução de uma tira de As Cobras
Uma discussão tão antiga quanto a literatura é a que procura delimitar as características específicas que definem um determinado gênero - e longe de um consenso, já que o debate se renova de tempos em tempos.
Fomos em busca dos diálogos que se ouvem na praça
É com isso em mente que um dos grandes humoristas brasileiros, Luis Fernando Verissimo, vai discutir os vários gêneros em que sua arte pode ser exercida na imprensa. Verissimo participa neste sábado, às 19h, na Sala Leste do Santander Cultural, de um debate sobre as similaridades e diferenças dos gêneros crônica, tira humorística e charge no jornalismo brasileiro.
O debate será mediado pelo escritor e cronista Rubem Penz, que recentemente organizou o volume Cobras na Cabeça, uma coletânea de crônicas escritas por 18 autores inspirados em tiras dos personagens As Cobras, de Verissimo. Outro debatedor do evento, Gerson Kauer, é um dos cronistas participantes. O bate-papo pretende analisar quais as particularidades entre as linguagens da crônica e das variações do desenho de humor. Uma distinção que Verissimo tem bastante clara - a não ser para o próprio trabalho.
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- Há uma diferença entre a charge e o cartum. A charge sempre tem a ver com a realidade, enquanto o cartum é mais atemporal. Não sei bem se o que eu faço é definível como charge, mas com certeza não é cartum porque é atemporal. Não sei classificar muito bem. Talvez seja mais um "cartum atual" - diz Verissimo, comentando seu trabalho de décadas com personagens como As Cobras.
Já Rubem Penz vê a distinção em outros termos:
- Tirinha, charge, crônica, cabem todos no mesmo papel, mas a charge tem uma mensagem calcada na capacidade de síntese, e por isso é uma forma em que a qualidade e a precisão do traço é fundamental. A tira em quadrinhos já tem um enredo, e ela prescinde muitas vezes do traço mais elaborado.
Ao falar sobre seu trabalho, Verissimo concorda que suas tiras são impulsionadas pelo texto e que seu desenho é uma ferramenta prática, mas simples.
- O meu problema como humorista gráfico é o mesmo do Jaguar, por exemplo. Ele não é um mestre do desenho. Eu também faço as coisas com um desenho rudimentar, que está ali para levar a piada.
Já para Penz, é aí que reside a qualidade do trabalho.
- O Verissimo, ao fazer suas tiras, opta por um traço econômico. O que é ótimo, porque a arte não briga com o enredo, com o argumento. Quanto melhor ele desenhasse, talvez pior fosse o resultado. Do jeito que é, o traço se adapta perfeitamente - comenta.