Explorado há décadas pelos artistas, o audiovisual é uma linguagem que já tem uma longa trajetória nas artes visuais e, por isto, uma história a ser contada. Mas o uso do filme e do vídeo pelos artistas mantém certas particularidades e exigências. Não só para a maneira de expor esses trabalhos, mas também para a fruição do público, que se vê diante de obras que solicitam maior tempo e comprometimento.
Em sua primeira exposição totalmente dedicada ao audiovisual desde a inauguração da sede, em 2008, a Fundação Iberê Camargo (FIC) apresenta um recorte da Coleção Itaú Cultural. Esse importante acervo começou a ser formado em 2011, com a reunião de trabalhos realizados desde os anos 1970.
- É uma coleção que está sendo constituída a partir de uma perspectiva analítica sobre como se deu o desenvolvimento da história do filme de artista e da videoarte no Brasil - diz o curador Roberto Moreira Cruz. - Um dos aspectos mais interessantes é a aquisição, o restauro e a remasterização de trabalhos históricos, pois muitos estão desaparecendo pela questão da obsolescência da tecnologia.
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Junto ao projeto de constituição de um acervo sobre a história do audiovisual na produção artística brasileira, o Itaú Cultural criou exposições para circular pelo país. Filmes e Vídeos de Artistas na Coleção Itaú Cultural, que agora chega a Porto Alegre, já passou por Curitiba, Brasília, Recife e Belo Horizonte.
Trabalho de Letícia Parente. Foto Adriana Franciosi
Em dois dos andares da FIC, 17 trabalhos são apresentados em dois núcleos. Um deles reúne audiovisuais pioneiros dos anos 1970, de Rubens Gerchman e Nelson Leirner, dois nomes fundamentais da arte contemporânea brasileira, além de produções da mesma década de Anna Bella Geiger, Regina Silveira e Letícia Parente. Desta artista, é apresentada a videoperformance Marca Registrada, em que Letícia borda na sola do pé, com agulha e linha, a frase "Made in Brasil" (acima) - este trabalho é também apresentado pela 10ª Bienal do Mercosul, na Usina do Gasômetro. Há nesse conjunto de obras um caráter experimental que as coloca em posição marginal frente ao ambiente e aos valores artísticos daquela época.
O outro núcleo da exposição dá conta de audiovisuais realizados desde os anos 1990 por nomes de destaque internacional, como Cao Guimarães, Brígida Baltar, Eder Santos, Gisela Motta, Rivane Neuenschwander, Leandro Lima, Sara Ramo e Thiago Rocha Pitta.
Para a exposição na FIC, foram especialmente reunidos trabalhos de artistas gaúchos ou residentes no Estado que não pertencem à coleção: Marina Camargo, Eduardo Montelli, Isabel Ramil e Letícia Ramos. Outro gaúcho na mostra é Luiz Roque, que já integrava o acervo.
Obras de Eduardo Montelli (à esq.) e Marina Camargo (à dir.). Foto Nilton Santolini, Fundação Iberê Camargo (FIC), Divulgação
Em comum, todas as obras apresentadas em Filmes e Vídeos de Artistas na Coleção Itaú Cultural enfatizam uma visualidade poética, com o audiovisual sendo usado como recurso de criação de imagens e sons para composição de narrativas ou encenação de performances.
A montagem da exposição, que evitou cabines de projeção, tem como ponto a destacar a solução de intercalar projeções com som ambiente e projeções com fones de ouvido que convidam a serem assistidas com maior intimidade. Em alguns casos, a sobreposição de áudios pela aproximação dos trabalhos gera situações interessantes, como nas obras de Marina Camargo e Eduardo Montelli (acima).
Considerando tratar-se de uma mostra que busca oferecer uma breve antologia do audiovisual na arte brasileira, a lacuna são os anos 1980, década em que a transição do filme de película para a fita magnética (Betamax e VHS) difundiu o vídeo nas práticas artísticas.
- A partir do ano que vem, deverão ser feitas aquisições de trabalhos no contexto dos anos 1980, exatamente para reforçar esse aspecto panorâmico que se busca com a coleção - diz o curador Roberto Moreira Cruz.
FILMES E VÍDEOS DE ARTISTAS NA COLEÇÃO ITAÚ CULTURAL
Visitação de terça a domingo (inclusive feriados), das 12h às 19h (último acesso às 18h30min). Até 21 de fevereiro.
Fundação Iberê Camargo (Av. Padre Cacique, 2.000), em Porto Alegre, fone (51) 3247-8000. Entrada gratuita.
Estacionamento: no subsolo da Fundação, com entrada pela Av. Padre Cacique, no sentido Zona Sul.
A exposição: baseada no acervo da Coleção Itaú Cultural, apresenta uma panorâmica do uso do audiovisual nas artes visuais, reunindo trabalhos desde os anos 1970.