Nem sempre se pode passear por uma das inspirações da música brasileira, então não se deve perder a chance de visitar Tropicália, de Hélio Oiticica, ali na Usina do Gasômetro na Bienal do Mercosul. Que o álbum coletivo Tropicália é fundamental para a música brasileira, lá em 1968, já ninguém discute. Mais difícil é poder ver Tropicália, a obra de Oiticica que, também ninguém discute, deu nome ao disco e serviu de norte para o movimento, o Tropicalismo de curta duração e longa influência.
Uma vez vi e passeei pela Tropicália de Oiticica num cenário nada tropical: Frankfurt, na Alemanha, em dias de pré-inverno, céu pesado, frio, umidade entrando nos ossos. De passagem pela cidade, a retrospectiva de Oiticica me teria escapado, não fosse uma alemã que mal conseguia pronunciar o nome "Oi-ti-ci-ca" me chamar a atenção para a exposição que ela tinha visto no dia anterior e que muito a tinha impressionado. Fui conferir: meio sem esperar, lá estava Tropicália.
Gostaria de saber mais de arte para dizer o que Tropicália significa em arte. Como não sei, olho e percorro Oiticica pelo olhar do músico. Isso que se vê na Usina é bem a imagem do disco - ou o álbum é bem a trilha do que se vê. Longe do frio de Frankfurt, dessa vez percorro Oiticica com Caetano nos ouvidos, com Gil explodindo a "geleia geral brasileira que o Jornal do Brasil anuncia..." enquanto abro as cortinas para ver o televisor ligado nas imagens banais do dia a dia.
Na retrospectiva alemã, não era só Tropicália que estava presente. Havia obras para ver, para tocar, para percorrer. E os parangolés! Muitos deles, com uma foto gigantesca de Caetano vestindo um. Mas sempre que penso nos parangolés de Oiticica, já não é mais na Tropicália que penso. É em Adriana Calcanhotto cantando "o parangolé Pamplona você mesmo faz...". As obras de Hélio Oiticica têm essa magia - são arte, mas lembram música. É como diz Caetano nas suas memórias sobre os tempos bravos dos 1960: "Os artistas plásticos, talvez até mais do que os cineastas, estavam próximos de nós".