Bastou um pipocar de tiros para o Coronel Apolinário Azambuja buscar a winchester em cima do armário. Naquele instante, chutando macegas, entravam em campo as equipes do Manotaço e do Redomão, decidindo o Campeonato Bagual da Grande Bagé.
Sentados nos pelegos, bombeando chimarrão, os torcedores se empoleiravam em bancos e barrancos. Ostentando ponchos, botas, esporas e chapéu beija-santo, os atletas posam para empinadas fotografias. O pontapé inicial é decidido no "suerte e culu" nos conformes do jogo do osso.
Desabou um temporal, e a partida decidiu-se de guarda-chuva aberto, sem prejuízo dos proveitos. Um vivaracho gringo mostra-se interessado no passe do Felisberto Cabeleira, o famoso deflorador de redes e demolidor de traves. Patos, galos e galinhas não perturbam o desempenho dos atletas, vez por outra confundidos com a bola, recebendo grandes tiros de meta e arremessos laterais.
O árbitro apita montado num matungo caborteiro e recebe vais de abigeatário. Massagista é coisa de maricotes. Um veterinário se acomoda de jeito para as eventualidades. Lenços chimangos e maragatos diferenciam as equipes gaudérias. Os bandeirinhas em seus petiços fazem cancha-reta pelas laterais do campo.
O goleiro, patrão em seu CTG, manda e pesponteia. Com rebenques nas mãos, defende sua pequena área qual marido de mulher assanhada. O escore é marcado com ferro em brasa. Ao campeão é oferecido uma vaca que nem carece dar três mugidos para virar espeto corrido. Se um atacante dispara no rumo às traves é hábito fazer uso indiscriminado de laços e boleadeiras. A cobrança de pênalti tem outro discernimento.
Correm parelhos cinco atacantes, chuta quem por primeiro alcançar a bola e, se errar o lance, leva uma sumanta dos outros quatro. Não se enganou o Coronel Apolinário quando ouviu o estopim de balas de todos os calibres fazendo algazarras no rebuliço da tarde. Se um anjo naquele instante cruzasse os céus do pampa, por certo, cai de bruços no banhado.
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