Dois dos maiores romancistas do Brasil se encontraram nesta sexta-feira para um debate na Feira do Livro. O amazonense Milton Hatoum, autor de Dois Irmãos, e o gaúcho Luiz Antonio de Assis Brasil, ex-secretário de cultura do Estado, estiveram em um bate-papo com o professor Adail Sobral. A pedido de ZH, Assis Brasil formulou três questões para seu colega. Veja as respostas:
Considerando a solidez de sua premiada trajetória, percebe-se uma preferência dominante pela narrativa longa. Alguma razão consciente para isso?
Comecei minha carreira com narrativa longa, o que não é muito comum, pelo menos no Brasil. Mas o que eu queria escrever precisava de mais espaço para desenvolver personagens, usar arcos narrativos mais longos, sobre diferentes momentos da vida
de cada um. O conto exige brevidade e intensidade, enquanto o romance permite digressões, remansos. É um gênero muito maleável, permite quase tudo.
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Sem falar em influências, a qual família de escritores você pertenceria? Com qual literatura você dialoga melhor, atualmente?
Há um diálogo geracional. Por exemplo, o Assis Brasil tem um viés histórico que me interessa. Embora ele seja um pouco mais velho, viveu o momento que eu vivi. Posso dizer que pertencemos ao mesmo tempo histórico. Há também o Ronaldo Correia de Brito. Embora os assuntos dele sejam mais nordestinos, ligados a Recife ou ao Sertão, há ali temas que fazem parte da nossa geração. Ou ainda o Rubens Figueiredo, do Rio, autor do bonito Passageiro do Fim do Dia.
Você é um escritor de longas pausas entre a publicação de uma obra e outra. A escritura de seu romance é longa? Ou é a reescritura que leva mais tempo?
Talvez esse seja um defeito meu. Sou muito lento para escrever. Consigo ler um romance com rapidez, e ler bem, entendendo o funcionamento da narrativa. Mas, para escrever, sou uma desgraça, de uma lentidão amazônica. É como aquela frase do Graciliano Ramos em Caetés: "É difícil escrever". É isso. Antes de escrever qualquer palavra, penso muito, deixo filtrar minhas experiências. E o problema não é o enredo, é encontrar a forma. Isso é o decisivo. Então, às vezes termino a narrativa em dois ou três anos, mas vou reescrevendo, talvez até com medo de publicar, por que o que fazer depois? Eu vivo intensamente quando escrevo, convivo de maneira profunda com esses personagens, que são seres vivos na minha cabeça, às vezes mais vivos do que eu. Depois, quando tudo acaba, parece que meu mundo interior também se esvai. Então quero manter o máximo de tempo o livro comigo, mas chega um momento em que é preciso publicar.
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