Mélanie Laurent, 32 anos, atriz que é um dos mais talentosos e belos rostos do cinema francês contemporâneo - ela ficou internacionalmente conhecida pelo papel de destaque em Bastardos Inglórios (2009), de Quentin Tarantino -, começa a trilhar também uma destacada trajetória como diretora.
Em cartaz na Capital,o drama Respire, segundo longa que Mélanie assina, mostra uma realizadora bastante segura à frente de um tema ao mesmo tempo delicado e conturbado: os questionamentos e as urgências afetivas e emocionais do universo adolescente.
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Navegando por uma praia na qual cineastas como Gus Van Sant e Sofia Coppola transitam com desenvoltura, Mélanie adapta em Respire o romance homônimo lançado em 2001 por Anne-Sophie Brasme, escritora então com 16 anos. O cenário é uma pequena cidade francesa onde a jovem Charlene (Joséphine Japy) - ou Charlie, como prefere ser chamada - encara, aos 17 anos, o fim do casamento de seus pais, a expectativa do vestibular e um namoro que não decolou com um colega de escola por ela apaixonado e com quem tentou, sem sucesso, perder a virgindade.
Chega na classe uma nova colega, Sarah (Lou de Laâge), garota que parece madura para a idade e que logo impõe-se no grupo apresentando um comportamento libertário e um histórico de aventuras exóticas por conta do trabalho humanitário da mãe na África. Charlie não fica imune ao encanto e começa a sentir por Sarah uma atração que imprime na convivência delas uma tensão erótica. E Sarah faz uso disso para manipular e desestabilizar emocionalmente a nova amiga.
Respire altera no desenrolar da narrativa diferentes e surpreendentes registros à medida que vai despindo suas protagonistas das máscaras que usam no convívio social. Charlie, tão bela quanto inteligente e aparentemente segura de seus passos, emula da mãe a passividade física e emocional e o medo da rejeição que esta apresenta na ligação com o ex-marido. Por sua vez, Sarah disfarça com seu comportamento de liderança e sua agressividade dissimulada um trauma familiar que a obriga a viver sob uma realidade fantasiosa, a qual Charlie ameaça desarmar.
O tom de romance adolescente dá, então, lugar ao suspense psicológico quando a atração de Charlie por Sarah vira confronto - segmento em que Respire faz um registro potente e preciso do bullying no ambiente escolar, mal com diagnóstico nem sempre visível que provoca efeitos internos terríveis em suas jovens vítimas. E tanto Mélanie quanto suas ótimas atrizes dão plena conta das progressivas exigências dramatúrgicas que a trama vai impondo até seu inesperado desfecho.
Respire
De Mélanie Laurent
Drama, França, 2014, 92min, 16 anos.
Em cartaz no Guion Center 2 (19h45) e 3 (16h).
Cotação: 4/5