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Um dos destaques da programação do 22º Porto Alegre Em Cena, a peça Contrações encena uma típica situação de assédio no trabalho potencializada ao extremo com recursos de absurdo. Na trama, Emma (Débora Falabella) é chamada pela gerente da empresa em que trabalha (Yara de Novaes) para ser informada de um contrato proibindo qualquer funcionário de estabelecer relações consideradas amorosas ou sexuais com colegas. Só que Emma tem um segredo que pode complicar sua situação.
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Escrita pelo dramaturgo britânico contemporâneo Mike Bartlett, a peça chega à Capital em montagem do Grupo 3 de Teatro, criado há 10 anos por Débora, Yara e Gabriel Paiva. As sessões serão nestas segunda e terça-feira, às 21h, no Theatro São Pedro. Convidada para dirigir a produção, Grace Passô figura duplamente nesta edição do festival: entre os dias 18 e 20, ela estará em cena no espetáculo Krum, da Cia. Brasileira de Teatro, com Renata Sorrah.
Débora relata que sua personagem motiva os espectadores a pensar em suas próprias situações de abuso no ambiente de trabalho:
- Percebemos isso desde os ensaios abertos, em que discutíamos a peça com a plateia. É um texto que cria muita identificação, desde reações um pouco exaltadas da plateia, durante o espetáculo, até a presença de pessoas, ao final da sessão, para nos contar suas histórias.
Para Yara, a gerente durona vivida por ela é despessoalizada pelo meio de produção em que se vive:
- Chega um momento em que somos levados pela correnteza que esse sistema nos impõe, não só nas corporações. Aí, fica difícil voltar atrás. Você acaba assumindo a voz daqueles que você nem sabe que são seus algozes. Pessoas como a gerente são vítimas de toda essa subjugação que a grana acaba impelindo.
Entretanto, mesmo espectadores que não convivem em ambientes corporativos poderão se sensibilizar com o espetáculo, garante Grace, a diretora. Em seu ponto de vista, o texto se vale de uma determinada situação como metáfora de relações mais amplas:
- Vivemos em um tempo em que o sistema capitalista prega noções de sucesso, de vencer na vida. Está ligado a uma forma de vida completamente desumanizada. Os desejos do indivíduo são colocados em um segundo plano dentro de um meio que quer gerar lucro. Nesse sentido, o que ocorre em Contrações é uma metáfora de um sistema capitalista opressor.
Leia a entrevista completa com Débora Falabella
O que mais empolgou você no projeto de Contrações?
Tinha feito (a peça) O Continente Negro com a Yara (de Novaes), mas a gente mal contracenava. Tínhamos vontade de fazer um trabalho mais juntas. Esse texto do Mike Bartlett era perfeito para isso, chamou nossa atenção pela maneira como é escrito, pelo próprio tema. Já tínhamos vontade de trabalhar com a Grace (Passô, diretora), que é nossa conterrânea. Apesar de sermos radicados em São Paulo, somos todos mineiros no Grupo 3 de Teatro.
Com a facilidade de acesso a filmes por meio de serviços digitais, as pessoas estão cada vez mais em casa. Levá-las ao teatro é uma tarefa desafiadora?
Claro. É nossa briga, nossa luta. São Paulo talvez seja a cidade do Brasil em que mais aconteça isso, de ter um público formado para ir ao teatro. Mas é difícil. Qualquer coisa vira um empecilho. É muito instável ainda. Se cai uma chuva ou se tem um jogo (de futebol), vira empecilho para as pessoas irem.
Para atrizes como você, que trabalham em diferentes mídias, o teatro é uma necessidade?
Nem digo que seja uma necessidade. É onde sempre acho que vou estar de alguma forma, apesar de todas as dificuldades que temos, inclusive no cinema e na televisão. Está mudando tudo. É isso que você falou, as pessoas não saem de casa nem para ir ao cinema. É uma questão de adaptação. O teatro é onde mais compreendo minha profissão. Ter uma companhia (de teatro) é dificílimo, mas é onde eu me sinto dona do que faço.
Qual é o seu próximo projeto?
Estou com o projeto de uma série da Globo, do José Luiz Villamarim, sobre o início da televisão. Começo a gravar no final de outubro. Tinha um título que nem sei se já é o definitivo: O País do Futuro.
CONTRAÇÕES
Nestas segunda e terça-feira, às 21h. Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), fone (51) 3227-5100. Ingressos: R$ 80. Desconto de 50% para sócio do Clube do Assinante e acompanhante. Ponto de venda sem taxa: Usina do Gasômetro (João Goulart, 551), das 12h às 18h. Pontos de venda com taxa: loja My Ticket Padre Chagas (Padre Chagas, 327, loja 6, das 9h às 18h), call center 4003-1212 (das 9h às 22h) e site ingressorapido.com.br. Se houver disponibilidade de ingressos no dia do espetáculo, os bilhetes também serão vendidos uma hora antes do início de cada sessão.
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