Dizem que a fruta nunca cai longe do pé. No caso da árvore da família Ramil, isso vem acontecendo há quase quatro décadas. Depois de Kleiton e Kledir, Vitor e Ian, chegou a vez de Thiago, que estreia em disco com Leve Embora.
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Sobrinho de Kleiton, Kledir e Vitor, e primo de Ian, o Ramil de dreadlocks conta que não teve pressa em dar continuidade à saga do clã. Mesmo mexendo com música desde tenra idade, esperou terminar a faculdade de Psicologia para então se dedicar às canções. Em 2014, com 25 anos e contemplado pelo edital do Natura Musical, decidiu que era chegada a hora.
- Tivemos um período de pré-produção em um sítio, em fevereiro deste ano, durante uns 10 dias - conta Thiago. - Depois, fui gravando ao poucos, em Pelotas, no estúdio A Vapor. Gravava em finais de semana, feriadões...
Essa tranquilidade e certo desapego se reflete no disco. Leve Embora é de um descompromisso espantoso com gênero, estilo e regras - característica muito bem delineada pelo coletivo que Thiago integrou, o Escuta - O Som do Compositor. O grupo, de onde o primo Ian também saiu, é pródigo em desrespeitar rótulos e alargar fronteiras.
- Das influências mais antigas que detecto, estão Bob Marley e Beatles, que eu ouvia muito em casa. Mas também ando ouvindo muito samba de velha guarda, sem falar do pessoal do Escuta, como a Musa Híbrida e o Ian - conta Thiago.
Leve Embora acaba sendo um retrato dessa nova geração, que bebe de fontes tão diversas e parece pouco preocupada com formatos. Até porque a ideia de final está muito longe para eles, como canta Thiago em Casca: "Saiu da casca sem querer / A vida toda por cumprir (...) / Solto no ar, sem o dever de expirar".
Para o primo Ian, Thiago surge como um compositor cheio de personalidade e uma nova força dentro da música brasileira:
- A produção do Thiago tem influências de coisas de dentro e de fora do Brasil, além do que ele trouxe da Psicologia e acaba refletido nas letras dele.
No universo musical de Thiago, cabe quase tudo. Tem um Led Zeppelin épico em Salar, um sambinha eletroacústico em Casca, um folk preguiçoso em Pó, uma MPB moderninha em Suspiro, uma psicodelia beatle em Dizharmonia e por aí vai. Por ser diverso, Leve Embora desafia positivamente o ouvinte e não aponta direções. No seu ritmo, Thiago Ramil irá para onde quiser. É ele quem diz em Dizharmonia: "Disritmado, eu sigo procurando o tempo perdido do compasso / E nada de me encontrar / Há tanto para qualquer lugar".
GENEALOGIA MUSICAL
KLEITON & KLEDIR
À frente dos Almôndegas, os irmãos estão entre os precursores em juntar MPB com rock e música regional no Brasil. Seu segundo trabalho, Aqui (1975), alcançou projeção nacional ao ter a música Canção da Meia-Noite incluída na novela Saramandaia (1976). Com o fim do grupo, em 1979, Kleiton e Kledir seguiram como dupla - seu disco mais recente, Com Todas as Letras, foi lançado neste ano.
VITOR RAMIL
Compositor, cantor e escritor, Vitor começou a carreira ainda adolescente, no início dos anos 1980. Influenciado pelos irmãos mais velhos, lançou trabalhos experimentais, como A Paixão de V Segundo Ele Próprio (1984). Nos anos 1990, refletiu sobre as características que unem o sul do Brasil ao Uruguai e Argentina, no que chamou de A Estética do Frio. O ensaio foi sucedido por Ramilonga (1997), um dos seus álbuns mais emblemáticos. Seu trabalho mais recente é o songbook Foi no Mês que Vem (2013).
IAN RAMIL
Filho de Vitor, Ian é contemporâneo de Thiago e integra o mesmo coletivo que o primo, o Escuta - O Som do Compositor. Seu primeiro disco, Ian, foi produzido em Buenos Aires em 2012 e lançado no ano seguinte. Seu próximo trabalho está em fase de captação de recursos via crowdfunding.
Árvore ramificada
Thiago Ramil estreia em disco com "Leve Embora"
Primo de Ian e sobrinho de Kleitor, Kledir e Vitor, músico aposta na mistura de gêneros para entregar trabalho minucioso
Gustavo Brigatti
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