O trabalho que Rommulo Vieira Conceição apresenta no Instituto Goethe é novo e foi encomendado para os 50 anos da instituição em Porto Alegre, com um único pedido: que propusesse uma situação de encontro no hall do prédio da Rua 24 de Outubro, 112.
O artista criou um móvel que foge a padrões, com quatro mesas coladas uma na outra e sete assentos de rodinhas. O jeito que alguém se acomodar em um deles vai implicar no espaço de quem se sentar ao lado, e assim por diante.
- A ideia é compartilhar espaços - explica Rommulo, sobre o trabalho inaugurado na segunda-feira (17/8). - Mas esses espaços precisam ser compartilhados a partir do lugar que cada um ocupa. De certo modo, estou falando da necessidade de acordo nos lugares que habitamos.
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Versão final da instalação no Instituto Goethe, chamada "O meu e o seu espaços se encontram em área de cor tênue"<?xml:namespace prefix = "o" ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />
Lidar com o espaço físico, realçando o modo como vemos o entorno e percebemos nossa presença, tem sido o foco do artista. Baiano radicado em Porto Alegre, doutor em Geoquímica e professor da área na UFRGS, Rommulo constrói objetos intrigantes, que fundem lugares internos como cozinhas, banheiros, quartos, salas e corredores.
Com esses ambientes enviesados, o artista vem dando corpo, nos últimos 15 anos, a um conjunto de trabalhos híbridos, com elementos da escultura, da arquitetura e também do design de móveis. Apresentadas em forma de instalação, suas obras jogam com a percepção espacial do espectador e discutem os códigos que atribuem a utilidade e a finalidade dos objetos cotidianos.
- As mídias mudam, mas o interesse é sempre o mesmo: o espaço. Por isso, faço muito do mesmo - resume. - Quando cruzo esses ambientes, nós, como seres humanos, temos que habitá-los. A ideia é falar desse homem contemporâneo conectado, que mentalmente está em mais de um lugar ao mesmo tempo, embora fisicamente esteja no mesmo lugar.
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Esse comentário sobre a limitação das experiências físicas frente a um mundo que virtualmente se movimenta em fluxos de rede também inspira o que Rommulo apresentará na 10ª Bienal do Mercosul.
Ainda que não possa contar detalhes do que está preparando para a mostra, que começa em outubro, o artista dá uma pista: falará da paradoxal equivalência entre segurança e aprisionamento a partir das grades, dos muros e dos dispositivos de vigilância que encarceram as pessoas em ambientes privados, apartando-as do espaço público:
- A gente não se incomoda mais com cercas, em ter que ficar em casa para se sentir seguro. Foi ficando familiar. Para nos protegermos, temos que nos isolar. Por isso, esse trabalho será um contraponto ao que tenho feito. Lidará com espaço não de forma permeável, mas de bloqueio, de interrupção. Será extremamente agressivo e proibitivo, mas sem sangue ou explosões, sem ser midiático ou panfletário. Por isso, está sendo difícil de construir.
Rommulo está em um ano movimentado, com projetos e mostras pelo Brasil. No momento, participa da exposição coletiva Cross Over, promovida no Rio de Janeiro pela galeria que o representa lá, a Monique Paton. Antes da 10ª Bienal do Mercosul, estará na TRio - Bienal Tridimensional do Rio, marcada para setembro. E na sequência deverá apresentar uma exposição individual de fotografia na galeria Gestual de Porto Alegre.
Fotografia de Rommulo Vieira Conceição
Quem é o artista
- Rommulo Vieira Conceição, 46 anos, nasceu em Salvador e vive em Porto Alegre. Em sua produção em desenho, pintura, objeto, fotografia e vídeo, explora relações entre a percepção do espaço e a condição do homem contemporâneo.
- Passou pelo saudoso Torreão, como aluno de Jailton Moreira, fez mestrado e atualmente cursa doutorado em Poéticas Visuais pela UFRGS.
- Participou da 8ª Bienal do Mercosul, em 2011, e neste ano participará da 10ª edição. Já foi selecionado em editais do Rumos - Itaú Cultural (2006), da Funarte (2009 e 2012) e do Prêmio Marcantonio Villaça (2012). Desde 1998, participa de exposições dentro e fora do país.
- Um de seus trabalhos mais lembrados é SuperCinema, uma sala de cinema com supermercado apresentada em 2011, no hall do Santander Cultural, na exposição Agora/Ágora.
Obra "SuperCinema", de Rommulo Vieira Conceição