Quase duas décadas após sua morte, Renato Russo (1960 - 1996) segue como autor e tema de novas obras. É o caso dos recentes livros As Quatro Estações, de Mariano Marovatto, e Só por Hoje e para Sempre, diário escrito pelo líder da Legião Urbana.
Poeta e músico, Marovatto busca contar detalhes da criação do álbum As Quatro Estações, de 1989. Para isso, teve acesso a dezenas de fitas com gravações inéditas da banda, além de entrevistas com o guitarrista do grupo, Dado Villa-Lobos. O ponto de partida é o mal-afortunado show que a Legião fez no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, no ano de 1988, quando uma confusão tomou conta do público, resultando em 385 feridos. Enquanto os outros integrantes da banda deixavam a cidade, Renato se enfurnava em um quarto de hotel para compor e registrar uma série de esboços de canções, a qual chamou de Cocaine Days. É a transformação desses esboços musicais, até a versão final de As Quatro Estações, que Marovatto narra no livro.
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Já a Companhia das Letras apresenta ao público textos inéditos de Renato Russo em Só por Hoje e para Sempre, reunião de escritos do compositor feitos na temporada em que esteve internado na clínica de reabilitação Vila Serena, no Rio de Janeiro, em 1993. No volume, que apresenta reproduções de desenhos e trechos escritos à mão pelo cantor, Renato narra episódios pouco conhecidos de sua carreira e de sua vida íntima (leia ao lado). O livro também ajuda a compreender como esse período da vida do músico se relaciona com o álbum O Descobrimento do Brasil, lançado no mesmo ano da internação - não é por coincidência que a primeira faixa do disco se chama Vinte e Nove, exatamente o número de dias em que Renato permaneceu na clínica.
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A chegada do diário às livrarias é uma boa notícia para os admiradores da Legião não apenas por seu ineditismo, mas também pela promessa que encerra. Na orelha do livro, consta que Renato deixou "vasta obra literária", que a Companhia das Letras "publicará ao longo dos anos".
_ O volume de material inédito é gigantesco _ avalia a editora Sofia Mariutti. _ São cerca de 30 cadernos com diários, anotações e rascunhos que explicam o processo de composição de músicas.
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As novidades sobre Renato não se restringem aos livros. Além de manuscritos, o músico deixou em seu apartamento, no Rio, gravações, desenhos, fotos e objetos pessoais que deverão compor uma exposição no Museu da Imagem e do Som de São Paulo em 2017 .
O fim e o começo
As anotações de Renato em Só por Hoje e para Sempre expõem alguns detalhes do início de sua carreira musical, explicando episódios como o fim do Aborto Elétrico, grupo que manteve com os irmãos Flávio e Fê Lemos (Capital Inicial). Renato conta que, no final de 1980, depois de subir ao palco para um show "já bêbado", teve uma briga com Fê, que estaria "levando tudo muita a sério" e chegou a "interromper a apresentação para me tacar baquetas e gritar comigo". Escreveu Renato: "Me senti desprezado e saí do grupo naquele instante".
Esnobes e arrogantes
Renato também conta em seus diários como se julgava inadequado entre outras estrelas da música brasileira, mesmo no auge de sua fama. Em 1990, em um jantar na casa de Regina Casé, sentiu-se esnobado diante de figuras como Caetano Veloso, Ney Matogrosso e Guilherme Karan. O mesmo ocorre quando começa a participar de um grupo de discussão com "vários conhecidos famosos" para debater Nietzsche. Sem citar nomes, escreveu: "aquelas pessoas me enfastiavam com sua arrogância, preconceitos e seus ares de 'superioridade moral'".
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SÓ POR HOJE E PARA SEMPRE
De Renato Russo
Diários, Companhia das Letras, 168 páginas,R$ 34,90.
AS QUATRO ESTAÇÕES
De Mariano Marovatto
Ensaio, Cobogó, 88 páginas, R$ 32.