O Festival de Gramado encerrou sua 43ª edição no sábado projetando a próxima, que só será realizada a partir de 26 de agosto de 2016 - depois do período tradicional, para não coincidir com a Olimpíada. Cobrados por críticos e jornalistas pela seleção irregular, sobretudo de longas brasileiros, os organizadores prometeram rever o regulamento, que neste ano permitiu incluir na mostra competitiva O Último Cine Drive-In, com estreia no circuito comercial marcada para esta quinta-feira, mas acabou forçando a exclusão do ótimo Que Horas Ela Volta?, que entra em cartaz apenas na semana que vem (não pôde competir devido a uma sessão de pré-estreia aberta ao público, realizada em São Paulo na semana passada).
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A decisão de exibir hors concours o longa de Anna Muylaert deixou o caminho livre para a consagração de Ausência. Vencedor dos principais prêmios, o filme dirigido por Chico Teixeira foi, de fato, o melhor título da principal competição. Mas teve o brilho um tanto ofuscado pela pulverização dos Kikitos - ganhou quatro, apenas um a mais do que o fraco filme "de mercado" Um Homem Só, da diretora ligada à TV Claudia Jouvin.
Segundo longa ficcional de Chico Teixeira (do muito bom A Casa de Alice, de 2007), Ausência narra de modo delicado as descobertas de um menino de 14 anos (Matheus Fernandes) que busca compensar a falta da figura paterna ao mesmo tempo em que amadurece sexualmente. Seu tormento é semelhante ao do protagonista de Ponto Zero, bom filme gaúcho, de José Pedro Goulart, que usa imagens oníricas de uma Porto Alegre que "anda para trás" ao descrever o pesadelo de um menino (Sandro Aliprandini) criado em meio às disfunções de uma família de classe média. Ponto Zero foi justamente lembrado, com dois Kikitos, assim como O Último Cine Drive-In, com quatro. Este, dirigido pelo estreante Iberê Carvalho, traz o jovem Breno Nina em ótima atuação como um garoto que vê a mãe ficar doente e trata de reencontrar o pai, que é... ausente em sua vida.
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Uma disputa monotemática? Não é para tanto. A mostra competitiva de longas brasileiros encontrou bons momentos ao escancarar a crise da estrutura familiar no país, mas as mostras de curtas nacionais e de longas latino-americanos foram plurais _ e bem mais regulares. Veio do México aquela que talvez seja a melhor atuação do festival (Gilberto Barraza, premiado com o Kikito), no instigante En La Estancia. O filme de Carlos Armella começa como um falso documentário sobre um velhinho e seu filho remanescentes de um vilarejo abandonado, transforma-se em uma ficção sobre o lugar e, ao fim, em uma reflexão sobre o cinema.
A cerimônia de premiação teve mensagens políticas contundentes: do produtor Luiz Carlos Barreto e do escritor Luiz Fernando Emediato, em defesa do "Estado democrático de direito, que está ameaçado de golpe" (em alusão ao governo federal), e dos realizadores de curtas, que pediram a consolidação de uma política de editais no Rio Grande do Sul.
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Os gaúchos levaram os dois principais prêmios da mostra de curtas, de melhor filme (O Corpo, de Lucas Cassales) e direção (Bruno Carboni, por O Teto sobre Nós). Foi o segundo ano consecutivo que o Estado ficou no topo da competição nacional da categoria em Gramado _ o grande vencedor em 2014 foi Se Essa Lua Fosse Minha, curta de direção coletiva de alunos da Unisinos.
Confira galeria de imagens da cerimônia de premiação: