Está na Bíblia, transcrevo aqui: "Estavam todos estupefatos. E, atônitos, perguntavam uns aos outros: o que vem a ser isso?". Para os que acompanham os bastidores da vida nacional está difícil acompanhar os escândalos e ilícitos que os noticiários nos revelam diariamente sem fazer coro à perplexidade bíblica: "o que vem a ser isso?". Um exemplo: o filho do presidente do TCU pratica advocacia administrativa no órgão que o pai preside, e é como se isso fosse absolutamente correto. Não é. Nenhum dos dois, porém, demonstra qualquer constrangimento. Claro: um novo descalabro logo o substituirá nas manchetes e outros desmandos nos surpreenderão.
Enquanto o dólar dispara e a bolsa despenca, Chico César grava a mais contundente, politizada e "bob dylanesca" canção brasileira dos últimos anos, a quilométrica Reis do Agronegócio. Tiago Rinaldi, o melhor cantor gaúcho de sua geração, deveria cantá-la. Deveríamos cantar juntos. Todos nós.
Agosto, mês do desgosto: em visita a Portugal, o Ministro da Cultura, Juca Ferreira, admitiu que "talvez tenhamos errado no acordo ortográfico". Enquanto do lado de lá do Atlântico não há consenso algum, desde 2010 o Brasil teve de reaprender regras de gramática, pontuações, o diabo. Ainda tenho a sensação de escrever errado quando não coloco acento em determinadas palavras ou hífen em expressões compostas. Nunca gostei do tal acordo - que começará a valer oficialmente em 2016. Pelo simples fato de que a língua que se fala em Portugal não é a mesma que se fala aqui. Belas, sim, mas distintas. E se a Pátria Mãe voltar atrás? Teremos de desaprender tudo de novo?
Pra não dizer que não falei de flores: aos 90 anos, depois de 35 sem publicar, James Salter nos dá um presentão: Tudo que É, romance maravilhosamente bem escrito. Sem o apelo midiático de Harper Lee, o autor contabiliza elogios de gente como Philip Roth, Susan Sontag e Saul Bellow. Leia direto. E ouça/veja Loucura, CD e DVD em que Adriana Calcanhotto canta Lupicínio. Uma bênção.