Ao longo das últimas décadas, o Festival de Gramado foi a principal referência de cineastas gaúchos para lançar seus longas-metragens. Mas os holofotes oferecidos pelo evento não serviram para iluminar dois marcos do novo cinema local, Castanha (2014) e Beira-Mar (2015), que tiveram sessões em festivais internacionais prestigiosos, como Berlim, e chegaram ao Brasil sem passar pelo evento serrano.
Da mesma forma, Jorge Furtado lançou seu Real Beleza (2015) na semana de abertura de Gramado sem lamentar a impossibilidade de fazer uma sessão no Palácio dos Festivais. Ao mesmo tempo, nada menos do que 13 longas gaúchos foram inscritos para a mostra competitiva de Gramado - apenas Ponto Zero, de José Pedro Goulart, foi selecionado. O número de produções locais pleiteando espaço no evento tem sido alto nas últimas edições, o que motivou a criação da mostra de longas gaúchos, que, neste ano, tem lugar no Palácio dos Festivais de segunda a sexta-feira, com entrada gratuita. Afinal, que lugar Gramado ocupa, hoje, no horizonte dos realizadores?
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- A estratégia de lançamento depende do calendário de cada distribuidora, da data disponível para a estreia e dos festivais realizados um pouco antes desta data - explica Filipe Matzembacher, codiretor de Beira-Mar com Márcio Reolon.
- Mas não sei se algumas características do nosso filme, que tem uma narrativa minimalista, quase sem conflitos, combinam com o panorama geral dos longas de Gramado - completa Reolon, que promete novidades sobre a estreia de Beira-Mar nos próximos dias.
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Boca Migotto trouxe seu documentário Filme sobre um Bom Fim (2015) para Gramado depois de exibi-lo no É Tudo Verdade, em São Paulo. Diz que essa "janela" de exibição para o longa "veio a calhar", dado que sua estreia em Porto Alegre está marcada para o próximo dia 20:
- Vamos fazer um barulho bom em cima da hora de o filme entrar em cartaz. Gramado chama a atenção das pessoas, e isso é bom.
Mas e quanto a Castanha?
- Hoje, há muitos festivais, e cada um tem o seu perfil de curadoria, público e visibilidade. Não há como saber se seria diferente ter feito a première nacional em Gramado, e não no Rio e em Paulínia (onde Castanha foi exibido). Mas não podemos esquecer que os realizadores vão atrás de festivais com os quais se identificam - comenta Davi Pretto, diretor do filme.
Gramado segue sendo uma das principais vitrinas do cinema nacional. Contudo, sua efetividade depende do perfil de cada produção e das oportunidades que se apresentam para a sua exibição. Se há uma mudança em curso na relação do festival com os gaúchos talvez ela tenha a ver com a natureza estética de Castanha e Beira-Mar, títulos conectados com tendências contemporâneas do cinema de autor nem sempre valorizadas no Palácio dos Festivais.
Mostra de longas gaúchos no Palácio dos Festivais
Sessões às 16h, com entrada franca
Segunda - Sobre Amanhã, de Diego de Godoy e Rodrigo Pesavento; e Tormenta, de Lucas Costanz
Terça - Errante - Um Filme de Encontros, de Gustavo Spolidoro
Quarta - Nós Duas Descendo a Escada, de Fabiano de Souza
Quinta - Edmundo, de Luiz Alberto Cassol
Sexta - Filme sobre um Bom Fim, de Boca Migotto