Sabe-se pouco, espera-se muito do primeiro longa-metragem de José Pedro Goulart, que será exibido na noite desta quinta-feira (13/8) no Palácio dos Festivais. Ponto Zero é o representante gaúcho entre os sete títulos da mostra competitiva nacional, a mais badalada do 43º Festival de Gramado, que vai até o fim de semana na Serra.
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Sabe-se pouco porque o diretor é econômico nas palavras sobre a trama, que acompanha o amadurecimento de um guri de 14 anos - quer que o público descubra sua história sem maiores informações prévias. Espera-se muito porque, afinal, é a estreia, aos 55 anos, daquele jovem cineasta que ajudou a fundar a Casa de Cinema de Porto Alegre, codirigiu o clássico gaúcho O Dia em que Dorival Encarou a Guarda (com Jorge Furtado, em 1986), seguiu ganhando prêmios com o longa de episódios Felicidade É... (correalizado com Furtado, Cecílio Neto e José Roberto Torero em 1995) e o curta "solo" O Pulso (1997). E só agora chega ao longa.
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Demorou, mas, nesse período, Zé Pedro fez muito. Estava pronto para rodar o longa Jardim do Diabo, que ele e o jornalista Eduardo "Peninha" Bueno roteirizaram a partir do livro de Luis Fernando Verissimo, quando veio o "golpe na cultura" de Fernando Collor, que, no início da década de 1990, fechou a Embrafilme e cortou o repasse de verbas ao cinema nacional.
- O baque foi enorme. Fiquei fora do ar um tempo e só voltei para fundar a Zeppelin - lembra, citando sua primeira produtora (há sete anos, ele também fundou a Mínima).
Depois, trabalhou no roteiro original de O Amor de Joel por Jaqueline, longa que se passaria em um presídio, aproveitando a experiência do ótimo longa documental O Cárcere e a Rua (produzido pela Zeppelin, com direção de Liliana Sulzbach em 2004).
- Talvez ali fosse a hora da estreia, só que também não recebemos o Prêmio RGE (principal mecanismo de financiamento de longas gaúchos entre os anos 1990 e 2000), e o filme não saiu - lamenta. - Mas não demorou tanto tempo assim: logo em seguida já comecei a trabalhar em Ponto Zero. Ou seja, seis ou sete anos atrás.
O filme é moldado em torno da figura de seu ator principal, Sandro Aliprandini. O piá é tão importante para o projeto que, por sua causa, as filmagens foram adiadas em um ano:
- Estava difícil encontrar alguém. Até que o vi na ZH, na foto que ilustrava uma nota (da coluna Contracapa) sobre um grupo de teatro de Passo Fundo. Era ele. Só que era muito novo. Tinha 13 anos. Então decidimos esperar que completasse 14. Nesse período, só pedi que ele não cortasse o cabelo - conta Zé Pedro.
A première em Gramado - cercada de mistério - faz parte de uma estratégia que evoca as memórias afetivas do diretor:
- Cresci para o cinema neste festival. Ganhei prêmios, trabalhei como repórter (da TVE, nos anos 1980) participei de embates, da tensão de, talvez, quem sabe, estar sendo espionado pelo DOPs. Devo muito a Gramado. A primeira exibição do filme tinha de ser aqui. Como se trata da minha estreia em longa, é como se fosse também um "ponto zero" para mim.
Filmes gaúchos que marcaram o festival
1974
O Cinema Gaúcho nos Anos 1920, filme de Antônio Jesus Pfeil, ganha um prêmio especial do júri.
1981
O marco Deu pra Ti, Anos 70, de Giba Assis Brasil e Nelson Nadotti, ganhou o Festival Nacional de Cinema Super-8, à época um evento paralelo em Gramado. E fez o nome de seus realizadores - Giba e Carlos Gerbase assinam Verdes Anos, vencedor de um prêmio revelação no evento em 1984.
1989
A histórica consagração de Ilha das Flores, de Jorge Furtado, papa-prêmios daquele ano, não veio do nada. Três anos antes, em 1986, Furtado e José Pedro Goulart venceram a mostra nacional de curtas com O Dia em que Dorival Encarou a Guarda (prêmio dividido com dois outros filmes).
1995
Grande ano para os gaúchos em Gramado: Deus Ex-Machina, de Carlos Gerbase, vence a mostra nacional de curtas, e o filme de episódios Felicidade É..., de Furtado, Zé Pedro, Cecílio Neto e José Roberto Torero, vence na categoria longas-metragens.
1998
Primeiros prêmios para Gustavo Spolidoro, pelo curta Velinhas. Em 2000, ele ganharia dois Kikitos por Os Outros.
2009
Em Teu Nome, longa de Paulo Nascimento, é um dos títulos mais premiados em Gramado. Nos anos anteriores, vários longas produzidos no Estado beliscaram troféus - entre eles, Netto Perde sua Alma (2001), de Beto Souza e Tabajara Ruas.
2011
A animação Céu, Inferno e Outras Partes do Corpo, de Rodrigo John, vence a mostra nacional de curtas, troféu que também seria conquistado em 2014 pelo projeto coletivo de alunos da Unisinos Se Essa Lua Fosse Minha.
Mostra competitiva
Em Gramado, "Ponto Zero" marca a estreia do diretor Zé Pedro Goulart em longa-metragem
Filme será exibido na noite desta quinta-feira no Palácio dos Festivais
Daniel Feix
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