Tem gente que vai atrás de encadernados de luxo de Watchmen e O Cavaleiro das Trevas. Outros, chegam cedo para comprar um bonequinho de Attack on Titan. Há ainda quem precise mostrar que caprichou para ficar idêntica a Raven. O que não falta na ComicCon RS 2015 é espaço para toda essa fauna - incluindo aqueles que não entendem nada disso.
Em sua quinta edição, a maior convenção de cultura pop do Rio Grande do Sul saiu dos patios de colégios de Porto Alegre para o Campus da Ulbra, em Canoas. Lá, aficionados por quadrinhos, cinema, videogame, seriados e animes dividiram espaço com simples curiosos - caso do administrador de empresas Renato Chinaglia, 58, que acompanhava os filhos e sobrinhos.
- Eu só conheço os super-heróis mais famosos, né? Batman, Superman, Mulher Maravilha... - comenta. - Agora tem muito mais, nem sei os nomes. Qual é aquele ali, filho? - pergunta, recebendo como resposta imediata "Deadpool", que o faz menear a cabeça em sinal de entendimento.
Fãs tiram fotos com cosplays. Foto: Tadeu Vilani.
Para quem é do meio, o cardápio é variado e abundante, com exposições dos fã-clubes de Star Wars e Doctor Who, uma dezena de lojinhas vendendo de gibis raros a canecas e abajures customizados, estandes de HQs independentes comandados pelos próprios autores, paineis, debates, desfiles de cosplay e sessões de autógrafos (a do britânico Peter Milligan, roteirista de HQs do selo adulto Vertigo, parecia não acabar nunca).
- Eventos assim atraem pessoas que vieram por causa dos gibis de super-heróis que assistiram no cinema, por exemplo, mas daí entram em contato com quadrinhos autorais, que acabam comprando e fortalecem o mercado independente, que tem nas convenções algumas de suas maiore vitrines - analisa o quadrinista Fábio Moon, uma das estrelas do evento junto do irmão gêmeo Gabriel Bá. - É meio que uma bola de neve.
Yuri Damaschino, 29, é a prova desse espaço de interlocução que eventos como a ComicCon RS se tornaram. O estudante de Canoas veio para tentar completar a coleção da série Invasão Secreta, da Marvel, e acabou levando Far South, HQ de Rodolfo Santullo e Leandro Fernandez.
- Sempre tem alguma coisa que você não encontra nas bancas de revista e pode acabar gostando. Fiquei realmente supreso - conta.
O aumento da ComicCon RS é físico também: até o ano passado, o evento tomava o pátio, quadras e salas de aula do Colégio Marista São Pedro, em Porto Alegre. Este ano, mudou-se para o prédio da Ulbratech, no Campus da Ulbra, em Canoas, onde ocupa o térreo e um andar - com possibilidade de, no futuro, subir mais um lance de escadas.
- Essa foi uma das coisas que nos atrairam, ter esse poder de expansão - diz Émerson Vasconcelos, um dos organizadores da ComicCon RS. - E mesmo tendo mudado de local, o público tem comparecido da mesma forma, prova de que alguma coisa certa a gente está fazendo (risos).
Mais do que quadrinhos, cultura pop
Gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, conhecidos por quem curte quadrinhos brasileiros. Foto: Tadeu Vilani.
Dois dos maiores nomes dos quadrinhos brasileiros, os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá são frequentadores assíduos da ComicCon RS. Nesta edição, vieram lançar o romance em quadrinhos Dois Irmãos (baseado no livro de mesmo nome do escritor Miltom Hatoum). Sua presença no evento é fácil de ser detectada: é onde há um pequeno tumulto com livros e canetas estendidos para pegar autógrafo e celulares erguidos para fotos. Mesmo acostumados, não deixam de notar o crescimento de evento.
- Quando começamos, havia apenas o FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos, sediado em Belo Horizonte) e mais uma ou outra convenção. Hoje virou um negócio bem organizado, que atrai muita gente - diz Moon. - Mesmo porque, o público também mudou, não é mais um evento restrito. E quanto mais gente, mais vendas e, quanto mais vendas, melhor para todo mundo.
Trabalhando com quadrinhos desde os anos 1990, a dupla reconhece que a produção nacional vem crescendo e ganhando espaço dentro e fora do Brasil - eles mesmos frequentam prateleiras estrangeiras há mais de uma década -, muito por conta de um mercado que passou a entender (e ler) histórias em quadrinhos de outra maneira.
- Antes, a ideia que se tinha de HQs era um estúdio grande produzindo em larga escala. Hoje, tanto quem faz quanto quem lê sabe reconhecer o valor do sujeito que, sozinho, cria uma obra - explica Bá. - Mas é preciso paciência. Dois Irmãos, por exemplo, demorou quatro anos para ser finalizada.