"Essa é uma das muitas histórias que acontecem comigo", canta Roberto Carlos antes de desfilar uma pequena lista de autorreferências no início do hit absoluto O Calhambeque. A declaração de amor de um garoto por seu automóvel - e às mil garotas querendo passear com ele - é uma perfeita amostra do que levou a Jovem Guarda ao topo: as músicas falavam, finalmente, do ambiente e dos dramas adolescentes. Uma festa de arromba, um amor tão cruel que maltrata seu coração de papel, o carinha feio que tinha todas as mulheres por ele a suspirar, a vontade de fugir do casamento (ou de pará-lo agora, seu juiz!) e outras inúmeras situações comuns para a jovem classe média brasileira que, por vezes, não se via tão representada na rebuscada elite da bossa nova ou queria variar um pouquinho da melancolia do samba-canção. Fosse sobre melodia própria ou versão de um grande sucesso internacional da época, essa tradução da vida mundana foi amada. Mas também odiada.
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- Em 1964 houve o movimento da ditadura. Mas, na Jovem Guarda, não havia nenhum envolvimento, não havia nenhuma conotação política. Outros artistas, os que tinham conotação política, eram censurados. Enquanto isso, as músicas da Jovem Guarda eram ingênuas. Eles eram chamados de alienados por isso, e o Roberto (Carlos), que era o líder, era cobrado - explica o comunicador Clovis Dias Costa, que apresentou diversos programas de rádio e TV, inclusive o Discoteca dos Brotos, na Rádio Porto Alegre, na década de 1960.
Para além das limitações impostas a um programa de televisão em época de ditadura, havia uma questão fundamental para a escolha daqueles temas singelos e cotidianos: o público. Como destaca Marcelo Fróes, o público-alvo da atração era pré-adolescente, na faixa dos 12 a 15 anos, quando a política não interessa tanto assim.
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- Era a música dos jovens, da mesma maneira que você tem as boy bands para os adolescentes. Não tinha Jornal Nacional, não tinha internet. Quem comprava a merendeira ou a bonequinha da Wanderléa e do Erasmo eram eles. Você não pode esperar que essas pessoas se preocupem com política. Esse patrulhamento é imbecil, sempre foi muito imbecil - diz o escritor.
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FêCris Vasconcellos
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