Caetano Veloso e Gilberto Gil completaram 73 anos em 2015. E celebram juntos 50 anos de trajetórias amalgamadas em amizade e criação artística. Moldaram, cada um no seu caminho e por vezes em parceria, um repertório que sintetiza boa parte da linha evolutiva da música popular brasileira. O somatório de vivências que esses gigantes baianos apresentam no espetáculo Dois Amigos, um Século de Música mostra o quanto eles experimentaram e alargaram as infinitas possibilidades de juntar música e poesia.
Como foi o show de Caetano e Gil em Tel-Aviv
Fãs consideram elevados os valores da apresentação em Porto Alegre
O repertório do show desta sexta-feira (28/8), às 21h, no Auditório Araújo Vianna (Osvaldo Aranha, 685), pesca de 1965 É de Manhã, primeira composição de Caetano. Gil lembra seu cartão de visitas em São Paulo, Eu Vim da Bahia. Da revolução tropicalista comandada pela dupla, estão presentes Domingo no Parque, Tropicália e Marginália 2. Entre as canções do exílio conjunto em Londres, está Nine Out of Ten. De quando encarnaram os Doces Bárbaros com Gal e Bethânia, aparecem Esotérico e São João, Xangô Menino. E outros tantos sucessos, como se vê no repertório descrito na página ao lado, a partir dos shows realizados em São Paulo.
Divinos, maravilhosos, atentos e fortes (e sem temer a morte, como Gil diz batucando no violão), eles reverenciam o passado, mas continuam presentes e futuros com seus faróis ligados no Brasil e no mundo, como aponta a canção inédita As Camélias do Quilombo do Leblon. Ainda restam ingressos para a apresentação, com preços de R$ 490 a R$ 750 (veja serviço completo abaixo).
* Colaborou Fábio Prikladnicki
Leia entrevista com Gilberto Gil:
Como foi selecionar, entre centenas de canções que vocês criaram nos últimos 50 anos, aquelas mais representativas de suas trajetórias?
Sentamos e passamos em revista tudo o que a gente fez e as coisas que eram muito significativas tanto para nós pessoalmente quanto o que julgávamos ser para o público. Eu, por exemplo, pedi a Caetano que fizéssemos É de Manhã, a primeira canção que ele compôs quando nos conhecemos. Fomos estabelecendo também critérios do que ficaria em números individuais ou compartilhados.
Como foi escolher a faixa que prestaria tributo a João Gilberto (É Luxo Só, de Ary Barroso e Luiz Peixoto)?
Foi sugestão minha. Tinha cantado essa música no Prêmio da Canção (Prêmio da Música Brasileira), no ano passado, quando foi em homenagem ao samba. Sugeri a Caetano que a gente fizesse porque é Ary, um compositor fundamental, representativo de toda uma capacidade criativa brasileira. Veio, depois, a influenciar Tom Jobim e tantos outros. Caetano achou interessante a gente cantar mesmo. Esse é um dos números compartilhados, eu e ele.
Quais músicas do Caetano lhe dão mais prazer em cantar?
É de Manhã é uma delas, um samba, e tem uma poesia muito concisa, muito profunda. Gosto de muitas outras canções dele. Tem Desde que o Samba É Samba também, uma música que a gente já vem compartilhando desde o (disco) Tropicália 2 (de 1993). Também está no show.
Duas canções do show são representativas do exílio de vocês em Londres (Nine Out of Ten, de Caetano, e Back in Bahia, de Gil). Além de terem começado a carreira juntos, serem amigos, vocês enfrentaram juntos a traumática experiência do desterro. Em que medida essa vivência se reflete na ligação fraternal de vocês?
Acho que muito. Se nós já estávamos fadados a ser amigos e próximos por tudo o que já nos identifica, tudo que nos é comum, o fato de termos vivido a prisão e o exílio contribuiu para que essa aproximação nossa se consolidasse e se fortificasse, sem dúvida.
O set list dos primeiros shows de São Paulo apresentou faixas como O Leãozinho e Three Little Birds, que não estavam no set list de alguns shows na Europa. Algumas outras músicas podem aparecer no show de Porto Alegre?
Não sei. Pode ser. Caetano já sugeriu que eu cantasse Palco em um dos bis, mas ainda não cantei (risos).
As Camélias do Quilombo do Leblon, nova canção do show, composta por vocês no hotel antes do primeiro show em São Paulo, lembra uma situação do período da escravidão no Brasil e fala de uma segunda abolição ainda por vir. É uma observação de vocês à desigualdade social e racial que segue gerando tensão no país?
Sem dúvida. "Segunda abolição" é uma expressão já usada por alguns militantes e intelectuais dedicados à questão da escravidão no Brasil. Acho que o próprio Joaquim Nabuco e tantos outros. É uma expressão sobre essa dívida que ainda nos parece restar no Brasil com relação a uma primeira abolição, que foi incompleta. Uma segunda abolição para completar a obra abolicionista.
Na nova música também é feita uma referência à visão de vocês das colinas de Hebron. Que avaliação fazem das críticas daqueles, entre eles o músico Roger Waters, que defendem o engajamento de artistas contra a política israelense e pregam o boicote de shows naquele país?
No momento em que apareciam as questões, pronunciamos nossa posição de que seria melhor ir a Israel e não apostar no boicote. E foi melhor ter ido. Primeiro, porque tivemos a oportunidade de conhecer melhor a situação em contato com grupos que lutam por um melhor tratamento dos palestinos, pela implantação de um Estado palestino, coisas desse tipo. Fizemos a visita a Hebron, a West Bank (Cisjordânia). Estivemos com o líder político (israelense) Shimon Peres, que, em certa medida, se opõe às atitudes mais duras do governo israelense. Embora seja criticado também pelos partidários da Palestina, é apreciado por boa parte desses grupos porque tem uma agenda bem mais amena do que esses últimos governantes. Por causa dessas coisas todas, a gente achou que foi mais interessante mesmo ter ido. Além do fato de que a gente tem uma admiração muito grande pela sociedade israelense.
No recente contato de vocês com público e imprensa estrangeiros, que imagem se tem do Brasil? O que eles perguntaram sobre o país?
Eram geralmente repórteres ligados ao campo da música. Então, o interesse básico deles era esse: estarmos juntos, o significado de ambos no panorama da música brasileira, a música brasileira no panorama da música mundial. E evidentemente, aqui e ali, algumas questões pontuais sobre o sentido geral da civilização brasileira no mundo, uma certa expectativa recente de que o Brasil descobrisse um caminho auspicioso mais definitivo e a frustração dessas expectativas pelos acontecimentos mais recentes. Caetano costumava responder que as expectativas tinham sido excessivamente positivas em algum momento e que agora as expectativas negativas também eram excessivas (risos).
Está otimista, pessimista ou nenhum dos dois com relação ao Brasil hoje?
Sempre sou otimista em relação ao Brasil. Sou otimista em relação à sociedade humana de modo geral, apesar das grandes dificuldades que a gente vive na história do homem. E no caso do homem brasileiro também. É preciso o tempo todo acreditar na capacidade de avanço, de solução de problemas. Não sou daqueles que acreditam que o Brasil é um fracasso e que era melhor não termos sido (risos). Acho que é bom que sejamos uma nação como somos. O que o Brasil já conseguiu de original, de especial, tem, ao meu ver, dado uma contribuição importante para a civilização mundial.
CAETANO VELOSO E GILBERTO GIL - DOIS AMIGOS, UM SÉCULO DE MÚSICA
Nesta sexta-feira (28/8), às 21h.
Auditório Araújo Vianna (Osvaldo Aranha, 685), em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 490 (alta central - 2° lote), R$ 620 (baixa lateral - 2° lote), R$ 720 (baixa central - 2° lote) e R$ 750 (plateia gold - 2° lote). Meia-entrada para estudantes e idosos, exceto plateia gold.
Pontos de venda sem taxa: bilheteria do Araújo Vianna, a partir das 14h, e bilheteria do Teatro do Bourbon Country (Túlio de Rose, 80, 2º andar), a partir das 10h.
Pontos de venda com taxa: site ingressorapido.com.br, call center 4003-1212 (a partir das 9h), Agência Brocker Turismo em Gramado (Avenida das Hortênsias, 1.845, das 9h às 18h30min), Universidade Feevale em Novo Hamburgo (Rua Coberta, campus II, a partir das 13h, fone 51 3271-1208) e Bourbon Shopping Novo Hamburgo (Avenida Nações Unidas, 2.001, 2º piso, a partir das 13h).
* Zero Hora