Exibido em festivais desde 2013, quando abriu a primeira edição do Diálogo de Cinema, em Porto Alegre, Dromedário no Asfalto finalmente ganha sessões no circuito - o longa estreia nesta quinta-feira no Guion Center e no Espaço Itaú, em Porto Alegre. Trata-se do longa-metragem de estreia de Gilson Vargas, diretor de bons curtas (Até, Quem? e Casa Afogada) e um dos nomes de destaque da geração que despontou no fim dos anos 1990, primeiro resgatando a tradição gaúcha do Super-8, depois incorporando à sua produção a bitola digital.
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Seu "dromedário" é Pedro (Marcos Contreras), sujeito que acabou de sofrer uma perda e resolve pegar a estrada rumo ao Sul. Ele vai de carona de Porto Alegre a Montevidéu. Para encontrar alguém, que as poucas pistas oferecidas pelo roteiro de Gilson Vargas indicam ser seu pai. A metáfora do título se justifica pela capacidade que o dromedário tem de sobreviver por muito tempo sem água e comida. E, também, pelo fato de ser um camelo de uma só corcova: é interessante notar que o personagem percorre o caminho com uma pequena mochila às costas, e nela guarda todos os seus bens materiais, livrando-se de seu peso apenas ao fim da jornada.
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Pedro fala com viajantes e moradores do litoral uruguaio, mas o que mais ouvimos são suas digressões. Acompanhamos sua transformação a partir da combinação de suas reflexões com as belas imagens captadas pelo fotógrafo Bruno Polidoro. São momentos esteticamente bonitos, mas dramaticamente, às vezes, reiterativos. Reafirmam a busca do personagem, nem sempre, contudo, trazendo elementos de ambiguidade que deem conta da complexidade do que ele está vivenciando. Sua relação com o pai, por exemplo, permanece incógnita durante toda a narrativa.
A questão é que Dromedário no Asfalto funciona apesar de - e um pouco devido a - suas obsessões pelas elipses. É um filme contemplativo naquilo que este termo tem de melhor: nos faz ter vontade de seguir admirando suas imagens, mesmo que o universo retratado não seja dos mais coloridos. Em geral, como nos mostram os melhores road movies, pegar a estrada vale a pena pura e simplesmente pela própria estrada.
Dromedário no Asfalto
De Gilson Vargas
Drama, Brasil/Uruguai, 2013, 85min, 14 anos.
Estreia nesta quinta-feira no Guion Center e no Espaço Unibanco, em Porto Alegre.
Cotação: bom.