As letras da música regional gaúcha são ricas em versos que falam sobre rios, águas e chuvas. Quem não lembra José Cláudio Machado interpretando letra do poeta José Hilário Retamozo: "Poncho molhado olhar na tropa e no horizonte / vai o tropeiro devagar estrada afora / A chuva encharca que está chovendo desde anteontem / dói dentro dalma essa demora"?
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Um dos maiores sucessos do poeta Gujo Teixeira é Batendo Água. A música, com interpretação de Luiz Marenco, tomou conta do Rio Grande do Sul: "Meu poncho emponcha lonjuras batendo água / E as águas que eu trago nele eram pra mim / Asas de noite em meus ombros sobrando casa / Longe das casa ombreada a barro e capim".
Em Balseiros do Rio Uruguai, Barbosa Lessa diz "vou soltar minha balsa no rio, vou rever maravilhas que ninguém descobriu". Foi o mesmo rio que inspirou Aparício Silva Rillo a buscar na infância a lembrança da mãe lavadeira e do pai pescador "vendo as águas caminhando, ano vem e ano vai". Rillo morou em São Borja, uma das cidades da fronteira-oeste gaúcha mais castigadas pelas chuvas.
Em Açude, na primeira estrofe, o poeta Prado Veppo diz "Açude / Que matas / A sede do zaino / E a dor da saudade / Com gotas / Do céu. Na sequência, Açude / Que olhas / Com olhos / Tão puros / As pernas bonitas / Que a china / Escondeu". A música, que tem Mário Barros na parceria autoral, venceu a 10ª Coxilha Nativista de Cruz Alta com interpretação de Maria Luiza Benitez. Malu lançou em 1994 o CD Ouro Azul tendo os rios como tema. O missioneiro Noel Guarany cantou os versos de Glênio Fagundes na antológica Eu e o Rio que se encerra assim: "Peregrino dos caminhos / No rumo dos horizontes / Matando a sede da terra / Vivendo a sede de andar".
Quando guri, olhava espantado para aquele aguaceiro que volta e meia tomava conta das ruas engolidas pelo Ibirapuitã. Até mesmo o CTG Farroupilha ficava alagado. Em tempo de cheia, se chorar, chove mais. É momento de solidariedade. Da doação de agasalhos a alimentos. Nós, gaúchos, sempre solidários, temos que oferecer um pouco do nosso a tantos que sofrem com a enchente.
PAMPIANAS
Marcelo Machado: tempo de cheia
O colunista escreve mensalmente no 2º Caderno
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