Uma das séries que menos me impressionaram ao surgir acabou virando chiclete daqueles que grudam e não desgrudam. Silicon Valley me pareceu adolescente demais, brincadeira demais, leve e solta demais para retratar o que acontece no centro produtor de tudo que você toca quando pega o smartphone, o tal Vale do Silício.
Pois, ao final da segunda temporada, este que vos atormenta com essas pessimamente traçadas deve admitir o mais difícil para um ser vivo: erremo. Silicon Valley era boa justamente por isso, por achar o grau certo de sarro para retratar uma realidade tão bilionária quanto tola, tão infantil quanto criativa, tão maluca quanto concentrada em produzir riqueza em uma escala nunca antes vista.
O Vale do Silício deve ser um vale, imagino, mas não necessariamente cheio de silício. Ele transborda mesmo é de tecnologia, a mão que move o mundo no século 21. E tecnologia é algo jovem e movido por jovens, gente que sai de uma universidade de ponta dotada de uma enorme capacidade de programação, mas jovem demais para pensar nas consequências do que faz. O resultado é riqueza e transformação sobre uma base tão movediça quanto a Califórnia e suas falhas tectônicas. Silicon Valley dá conta, e muito bem, desse mundo.
O que acontece é que jovens talentosos do mundo inteiro se mandam para a região ao redor de San Francisco, movidos pelo desejo de criar alguma coisa, ganhar bilhões, e então esperar algum tempo para serem adultos o suficiente para terem uma barba e ficarem parecidos com o Steve Jobs. Esse é o plano, o único plano.
Mesmo assim, desse jeito um tanto descabeçado, funciona, e se alguém duvida, a moça que trabalha de vez em quando colocando ordem na Mansão Carneiro da Cunha acaba de enviar um Whats­App informando que, sorry, mas não vem amanhã. O WhatsApp foi vendido por US$ 19 bilhões, e era uma empresa com 50 funcionários, se não me engano, fazendo todos os jovens do Vale quererem ser o próximo WhatsApp, e por aí vamos.
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Silicon Valley é da HBO, aquela que quase nunca erra. Não errou, e a terceira temporada vem por aí, com nossos desmiolados siliconados seguindo em frente na sua luta para melhorar o mundo, um bit por vez.
E por aí vamos.