Em sua estreia como diretor de cinema, o argentino Hernán Guerschuny buscou fazer graça tanto com os clichês dos filmes românticos quanto com a figura do crítico ranzinza que abomina o gênero. E conseguiu driblar, parcialmente, o risco de não fazer a brincadeira inteligente se mostrar uma caricatura sem graça em O Crítico, que entra em cartaz no CineBancários nesta quinta-feira.
Exibido na mostra de longas estrangeiros do Festival de Gramado de 2014, o filme de Guerschuny apresenta como protagonista Víctor Tellez (Rafael Spregelburd, de O Homem do Lado, exibido na Capital em 2011), influente crítico de cinema de um jornal de Buenos Aires. Apaixonado pela nouvelle vague, ao ponto de narrar suas divagações existenciais em francês), Víctor vê nas comédias românticas a pura expressão de um sentimentalismo barato. E valoriza seu ofício, como compara a horas tantas, de ser a ponte necessária para o filme e o espectador se comunicarem, o filtro capacitado para separar a cultura relevante do entretenimento vulgar.
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A ilustração de Guerschuny faz do crítico é a do sujeito pedante, implacável, que ergue e destrói e reputações, com vida social e afetiva nula e que só consegue conviver com outros iguais a ele. Ou seja, o clichê recorrente do intelectual chato.
Ao conhecer a bela Sofia (Dolores Fonzi), porém, esse crítico turrão vai amolecer o coração e se lançar em um enredo de encontros e desencontros igualzinho ao que tanto despreza na ficção. Guerschuny imprime no filme um exercício de metalinguagem, com direito a foguetório na hora do beijo, corrida sob a chuva, impasse durante uma despedida no aeroporto, no qual, para espanto de Víctor, não falta nem o tradicional videoclipe que resume o dia de felicidade do casal em diferentes atividades.
Como ensinam, entre outros, Hitchcock e Tarantino, moldar clichês e deles criar um trabalho original não é tão simples quanto pode parecer aos aventureiros. É uma fina arte. Diante do risco a que se propôs, Guerschuny apresenta um trabalho irregular, porque alguns clichês lhe escapam na reciclagem e se potencializam na trama apenas como tais. Mas o resultado, sobretudo aos cinéfilos aptos a pescar referências nas entrelinhas da brincadeira, alcança momentos inspirados e divertidos e é merecedor de atenção.