O poeta não está mais vivo, mas sua poesia, sim. Há exatos 25 anos, uma das figuras mais populares e talentosas da música brasileira morria precocemente. Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza, faleceu em 7 de julho de 1990, vítima de complicações decorrentes da aids, mas sua música ainda é tocada em festas, shows e rádios.
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Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, Frejat - ex-companheiro de Cazuza na banda Barão Vermelho - comentou que o cantor promoveu uma revolução na música brasileira:
- Eu acho que Cazuza conseguiu promover uma verdadeira renovação ao ser capaz de somar a tradição da música brasileira, a poesia beat, o tropicalismo, os anos 70, Paulo Leminsky e os grandes letristas do rock como Reed, Morrison e Dylan... tudo isso com uma atitude catártica no palco. O rock brasileiro sempre fez parte da MPB mas, por uma questão de formação musical, havia forte resistência a isso. Só que depois da música feita pela nossa geração essa questão simplesmente desapareceu. Antes de nós não se falava em pop-rock brasileiro. Vejo a influência poética de Cazuza nas novas gerações. Hoje há uma preferência por músicas mais festeiras, alegres... mas quando esse ciclo se esgotar é possível que a música tenha esse perfil mais poético e de dor de cotovelo.
A relevância de Cazuza ainda hoje pode ser quantificada em números: um quarto de século depois de morrer, ele ainda figura nas listas dos cem maiores arrecadadores do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad). Na contagem que calcula arrecadamento de direitos em música ao vivo, o carioca figura na 25ª posição. Para o comunicador do Grupo RBS Márcio Paz, a explicação pode estar no fato de que, em todo esse tempo, não houve alguém que preenchesse o vazio deixado com a morte do poeta:
- Acho que os fãs ficaram órfãos, porque não surgiu nenhum substituto.
Em festas, composições mostram o lado "empoderador" de Cazuza
Não é que as composições do carioca fossem alegres ou festivas, mas músicas como Maior Abandonado e Brasil estão sempre entre as mais pedidas de eventos como a Cadê Tereza?, festa de música brasileira que ocorre mensalmente em Porto Alegre. Nanni Rios, uma das organizadoras, lembra que Cazuza tinha esta capacidade: transformar problemas e revoltas em festa.
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- Cazuza compôs verdadeiros hinos. As músicas têm emoção, atitude. Cantar músicas dele é empoderador, e, na festa, tu podes cantar a plenos pulmões. É uma catarse coletiva. E, por mais tristes que sejam alguns temas, ele nunca é baixo astral. Por isso que funciona muito nas festas.
Nos shows, postura "transparente" cativo público de diversos estilos
Em 2012, no programa Som Brasil, da Globo, a banda gaúcha Bidê ou Balde foi escalada para homenagear Cazuza. Tocaram três músicas, apesar de não terem o estilo muito parecido com o roqueiro carioca. Apesar disso, acabaram mantendo Maior Abandonado no repertório por algum tempo. O segredo, segudo o vocalista Carlinhos Carneiro, é a autenticidade:
- Ele era muito transparente, deixava tudo claro na poesia e na performance. A reação do nosso público, assim como a nossa própria, foi uma surpresa. Foi massa. Recebemos só elogios, foi algo que nos deixou muito felizes, e nos aproximou mais ainda desse ídolo tão honesto e "cara-a-tapa" que foi-se tão cedo.
"Postura rock e poesia MPB" explicam sucesso radiofônico
Ele não figura mais na lista das mais pedidas das rádios populares, mas também não é nada raro ouvir sucessos de Cazuza nas FMs. Com um repertório repleto de sucessos e hinos, o cantor consegue se manter nas playlists de DJs que preferem rock, mas toca também em rádios de música popular brasileira.
Essa é a chave para o sucesso contínuo de Cazuza, mesmo tanto tempo após sua morte. Pelo menos é a opinião do comunicador Márcio Paz, que apresenta programas nas rádios Gaúcha e Itapema:
- É bom de tocar Cazuza porque ele era rock e MPB ao mesmo tempo, soube ser rebelde como o rock pede, mas poeta como artistas de música popular. A frase "o banheiro é a igreja de todos os bêbados", de Down em Mim, por exemplo, é poesia pura, mas também é rock 'n' roll.