A longa guerra entre músicos e empresas de tecnologia teve mais um capítulo no início desta semana. E a batalha acabou sendo vencida por Taylor Swift, representante do primeiro exército. A americana entrou em uma queda de braço com ninguém menos do que a gigante Apple: a empresa não queria remunerar artistas durante o período gratuito de teste de três meses da Apple Music, novo serviço de música por streaming - mas acabou cedendo. O resultado do embate mostra que o funcionamento deste novo mercado da música ainda não está totalmente estabelecido e depende muito do protagonismo de artistas, produtores e empresas de tecnologia na discussão.
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Entre especialistas e músicos, a conclusão em meio a muitas dúvidas é de que a tomada de posição da estrela pop é um marco positivo no debate. Aos 25 anos, Taylor Swift é a artista que mais vendeu álbuns digitais em todos os tempos, posto que lhe dá segurança e estofo para pressionar (e vencer) uma das maiores corporações do mundo. Outras duas ideias referentes ao mercado de música digital predominam: o volume de grana diminuiu, mas é preciso superar a ideia de que, na internet, tudo é gratuito. O jornalista e produtor musical Marcelo Ferla não tem vergonha de dizer que não sabe qual é o futuro dessa indústria - pouca gente tem coragem de por a mão no fogo quando esse é o assunto -, mas vê com bons olhos o pronunciamento de artistas:
- O antigo modelo foi implodido pela tecnologia, e a maneira de transformar trabalho artístico em dinheiro tem que ser repensada. Muita gente não tem mais as vantagens que tinha no século passado. Nessa nova realidade, os artistas têm que tomar parte. Não há mais grandes empresas e gravadoras que os defendam - comenta.
Em sua carta aberta à Apple, Taylor disse que tomava a atitude pensando não só em sua carreira, mas no "novo artista ou banda que está lançando seu primeiro single", no "jovem compositor" e no "produtor que trabalha incansavelmente". John Ulhôa, guitarrista do Pato Fu e produtor musical, já foi tudo isso. Com muita experiência no cenário de bandas independentes, ele vê positivamente o "fim do oba-oba da internet":
- Houve um momento de inocência, em que se defendia a morte das gravadoras, a queda do sistema, tudo tinha que ser free. Mas isso é um tiro no pé. Quando você é um artista muito pequeno, isso é legal, porque a música se espalha. Mas, a partir do momento em que se tem um hit, você vai ver que aquilo não rende dinheiro. Hoje em dia, a grana diminuiu muito. Em uma comparação com antigamente, a escala é de um para 10. Nesse sentido, ela ter conseguido dobrar a Apple pode render um bom legado. Se eles ganham do lado de lá, os artistas têm que ganhar do lado de cá.
Ainda que tenha sido envolvida em toda a polêmica, a chegada da Apple Music deve modificar fortemente a realidade na arena de serviços de streaming. Na avaliação do especialista em mercado de música digital Marcelo Castello Branco, esse fato novo chega num momento em que o Brasil cresce no número de usuários de streaming. Para ele, cada vez haverá menos desculpas para não pagar por música - o que é bom para artistas e empresas:
- Muda tudo. A entrada da Apple, mesmo que atrasada (no nicho do streaming de áudio), vai fazer existir um antes e depois. A gente começa a ver no Brasil uma massa crítica de serviços de streaming muito importante. Cada vez mais, ouvir música legalmente vai ser uma opção viável. Eu aposto muito no crescimento definitivo do streaming e da música digital em 2015 no Brasil - avalia.
Apple Music já está disponível. Veja: