(TEXTO COM SPOILERS)
Tiffany "Pennsatucky" Doggett (Taryn Manning) está de joelhos, chorando a perda dos filhos que nunca nasceram. Big Boo (Lea DeLaria), em uma horrível e engraçadíssima fantasia de palhaço, aproxima-se dela e enumera os pontos positivos dos abortos de sua companheira de prisão.
A cena é a exemplificação perfeita do que é Orange Is the New Black, série da Netflix que mistura drama, comédia e temas sensíveis sem pudor. Temas esses que precisam urgentemente ser revistos, e, se no mundo real pouco ou nada é feito, ao menos temos a ficção escancarando a verdade.
Já no primeiro episódio da terceira temporada, as detentas recebem seus filhos em Litchfield. Em meio às brincadeiras, uma das meninas some. Quando os guardas descobrem, o alarme começa a soar fortemente e todos são obrigados a deitar no chão. Os olhares de medo e incompreensão de algumas crianças são marcantes. Elas estão vivenciando uma realidade que será decisiva em muitos aspectos no futuro.
Se no primeiro capítulo jovens imergem em um mundo quase desumano, na season finale as mulheres têm a oportunidade de sair de trás das grades e vivenciar, mesmo que temporariamente, a liberdade que lhes foi tirada. Diante da oportunidade, agem como crianças descobrindo algo novo. Elas se divertem no lago de forma quase ingênua. Não pensam em planos de fuga para nunca mais voltar, apenas desfrutam do momento.
Elas não pensam em fugir porque já adquiriram a consciência do quanto o sistema carcerário é cruel. Para o resto de suas vidas. Precisam lidar com o que vivem em suas celas e com uma sociedade que tratou de se livrar de algo indesejado e não faz a mínima questão de que elas regressem.
A situação é tão complicada que muitas retornam à prisão, demonstrando tanto as dificuldades enfrentadas após sair quanto a falta de programas para que elas não voltem a cometer crimes.
Esse é outro aspecto brilhantemente abordado pelo programa. Há guardas corruptos que fornecem drogas e demais itens. São tão ou, em muitos casos, mais criminosos do que muitas das mulheres que mantêm em regime fechado. E com a administração do local passando para a iniciativa privada, um dos temas deste ano na série, as detentas tornam-se mão de obra barata, o que alimenta mais ainda a necessidade de recorrer a atividades ilícitas.
Neste ponto, entra Piper Chapman (Taylor Schilling), protagonista que passou a comandar a venda de calcinhas usadas pelas suas companheiras. Para isso, mostrou o quanto já cresceu da primeira temporada, quando era um tanto irritante, até aqui. Viu na comida horrível do refeitório - o setor privado precisa lucrar com as encarceradas - uma oportunidade para construir sua rede de empregadas. Conseguiu a ajuda de um guarda, que também lucra, claro, e do seu irmão, responsável pela venda.
Na segunda temporada tivemos a Vee (Lorraine Toussaint) causando muitas confusões. Neste ano, faltou a presença de alguma personagem para trazer mais tensão à série. Todas as tramas foram muito boas, mas caminharam em um ritmo de calmaria boa parte do tempo. O lado bom é que, aos poucos, tivemos a construção de uma segunda mente do crime: Piper, a mesma menina que lá no início não parava de chorar.
Muita coisa mudou, e até mesmo seu relacionamento com a Alex (Laura Prepon) pode ter ido pelos ares. O triângulo amoroso, feito com a adição da maravilhosa Ruby Rose ao elenco, ganhou contornos mais instigantes quando a última, que seria libertada em breve, se deu mal por ter traído a amante. Uma quarta temporada está garantida, e quero ver como está e outras histórias se desenrolaram.
Entre elas, de Sophia Burset (Laverne Cox), transexual que foi espancada em um dos últimos capítulos. Assim como na segunda temporada, a personagem ganhou pouco tempo em tela, o que é uma pena. Há muito material para se trabalhar nesta história, e gostaria que a atriz deixasse de ser convidada e entrasse para o elenco principal, assim como entrou a ótima Uzo Aduba, que me fez gargalhar muito com a história picante criada por Crazy Eyes.
Esta foi uma temporada na qual faltou um pouco de adrenalina, todavia, há ótimas personagens, e a série se mantém como uma das mais originais e necessárias da atualidade.
Orange Is the New Black
Comédia/drama
Netflix, 13 episódios (terceira temporada)
Nota (0-5): 3
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