É claro que você já sabe que quem morreu no final da quinta temporada de Game of Thrones foi... Peraí, você ainda não sabe? Então, não leia o último parágrafo desta reportagem. Mas, mesmo que você não tenha ideia de quem foi a vítima da vez na série da HBO, sabe que a tal morte foi assunto na última semana das redes sociais às mesas de bar entre a multidão de fãs de GoT. Os comentários revelando o acontecimento trágico acabaram reacendendo a polêmica recorrente entre os espectadores: qual é o limite do spoiler?
Marcelo Carneiro da Cunha: spoiler deveria ser crime
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Especialistas, fãs e autores divergem. Há quem considere falta de educação contar qualquer segredo sem avisar antes. Outros acham que, ao postergar a sessão em frente à TV, o fã da série está assumindo o risco de perder o elemento surpresa e ficar em descompasso com os outros fãs.
Marcelo Carneiro da Cunha, que mantém uma coluna sobre séries no 2º Caderno de ZH, enfrenta esse dilema semanalmente. Em seus textos, o jornalista e escritor lida com fãs que podem ou não ter visto os capítulos mais recentes das séries em questão. Para ele, é difícil estabelecer regras sobre spoilers, mas não há dúvidas de que deve prevalecer o bom senso:
- Tomo muito cuidado para não tirar o prazer das pessoas. Antes, a TV era conversa de corredor, porque as coisas tinham dia e hora para acontecer. Agora, o fato de as pessoas poderem ver quando quiserem ou tudo de uma só vez no Netflix gera uma perturbação nessa ordem preestabelecida. Temos de criar uma nova etiqueta, que eu acho que tem a ver com mandar sinais, dizer que vai falar sobre algo que talvez nem todo mundo tenha visto.
E por que é diferente com as novelas?
Ainda que o conceito seja relativamente novo, a ideia do spoiler não é tão recente. O que dizer dos resumos de novela publicados em jornais? Ou das revistas que revelam desfechos e reviravoltas de tramas antes de irem ao ar? Explicar a diferença entre os dois casos não é simples, mas Cunha suspeita que tem a ver com a profundidade das obras. Enquanto a série é muito mais próxima do cinema, no qual importa mais a fruição e o durante, a novela "está lá para preencher um vazio":
- A série é uma forma narrativa muito mais rica, na qual todos os detalhes fazem diferença.
Especializada em storytelling e transmídia, Sheron Neves considera que não há como reprimir os comentários de fãs. Para a professora da ESPM e da Unisinos, avisar antes é questão de educação, mas depois está liberado, já que provavelmente tudo estará disponível na internet ou nos dispositivos de transmissão das séries. Em sintonia com a opinião de Marcelo Carneiro, ela lembra que, se antes os programas eram inseridos em uma grade de programação determinada pelas emissoras, passou-se a ter um horário privilegiado para se assistir à série preferida: o mais cedo possível.
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Se muitos espectadores odeiam spoilers, os produtores e autores devem amar. É a opinião de Ana Luiza Azevedo, diretora, roteirista e sócia da Casa de Cinema de Porto Alegre, que vê a pressa em comentar cenas marcantes como um sinal de que a produção foi bem feita. Por exemplo: alguém comentaria a morte da vez em Game of Thrones se o seriado fosse ruim? Provavelmente, não. Com essa pressa, e com tantos meios de assistir ao conteúdo, fica difícil segurar o ímpeto, mesmo que os episódios sejam inéditos no Brasil. Além disso, segundo ela, o tsunami de comentários nas redes sociais ainda tem o poder de contaminar quem nunca viu sequer um episódio.
- É mídia gratuita. Quem não assistiu fica fora do assunto nos grupos de amigos. Quem não via Game of Thrones não tinha o que conversar no domingo à noite, então não tenho dúvida de que os spoilers trazem mais público e causam mais interesse - avalia.
Alerta de spoiler: se você nem ao menos sabe quem é Jon Snow - o personagem que morreu no fim de GoT -, ainda dá tempo de começar a assistir à série. Aí, na sexta e próxima temporada - prometida para 2016 -, fica a seu critério dar ou não spoilers. E se você não gostou de ler sobre o final da série, considere que a reportagem seguiu as dicas dos especialistas aqui consultados: você foi alertado.
Manual de etiqueta do spoiler
- Antes de escrever um texto com spoilers, é de bom tom sinalizar a intenção para o leitor usando o termo padrão para esse tipo de conteúdo: alerta de spoiler (ou spoiler alert).
- Numa conversa ao vivo, é recomendado perguntar para os presentes se todos estão no mesmo episódio que você. Um simples "Vocês viram o episódio de ontem?" já resolve.
- Fique atento: no caso de um texto, é possível avisar. Com fotos e vídeos, não. Portanto, também é de bom tom evitar postagens desse tipo de conteúdo logo após o episódio mais recente ser exibido.
- Depois de um tempo, o prazo do mistério perde a validade. Passados 40 anos, por exemplo, não é mais tão grave revelar que Darth Vader e Luke Skywalker não são só inimigos.
- Em tramas de suspense e mistério, o spoiler é mais óbvio (quem é o assassino, quem morre no final), mas é legal evitar contar mesmo detalhes menos chocantes de roteiros de drama e romances.
- Por último, um toque óbvio, mas difícil de ser seguido pelos internautas mais ansiosos: se você estiver atrasado em alguma série, evite entrar em redes sociais, principalmente nos momentos imediatamente posteriores ao episódio que você não viu.