O Som ao Redor (2012) encontra o mexicano Zona do Crime (2007) no filme argentino Bem Perto de Buenos Aires, que entra em cartaz nesta quinta-feira na Sala Eduardo Hirtz da Cinemateca Paulo Amorim, que fica na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre.
O longa de estreia de Benjamín Naishtat, 28 anos, esteve na mostra principal do Festival de Berlim de 2014. Chama-se, originalmente, Historia del Miedo. Como indicam o título e os dois filmes citados acima, explora a sensação de insegurança que afeta um grupo de vizinhos, especialmente os habitantes de um condomínio fechado nos arredores da cidade portenha.
As relações que eles mantêm com quem os cerca evidenciam uma guerra de classes velada, ao menos pelo olhar de Naishtat. O clima bélico está posto desde o primeiro plano, que mostra um helicóptero da polícia sobrevoando o condomínio e anunciando uma ordem de despejo. O pânico dos moradores só fica evidenciado quando eles encontram um buraco na cerca que isola a propriedade, mas a atmosfera de suspense se encarrega de entregar a mensagem completa ao espectador: o encadeamento de situações estranhas e olhares cruzados indica a tensão que permeia todas as relações estabelecidas.
O painel do medo composto por Naishtat impressiona pelo trabalho de montagem e construção de climas, que fazem o público compartilhar o sentimento de angústia vivenciado pelos personagens. Também é preciso conviver, no entanto, com a frustração por ver algumas ações desses personagens interrompidas sem que as perguntas suscitadas estejam plenamente respondidas. Faz parte da proposta: o que importa, no vaivém de moradores, suas famílias e seus funcionários - e outras pessoas estranhas em meio a eles -, é menos os seus atos em si e mais a sensação que eles provocam. É na associação entre sequências aparentemente desconexas, mas que despertam percepções semelhantes na plateia, que se forja a dramaturgia de Bem Perto de Buenos Aires.
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Não se trata de uma trama de camadas e conflitos aprofundados, o que também pode ser interpretado como ausência de estofo - ou gratuidade, dependendo da paciência do público. De fato, faz falta conhecer melhor os personagens e suas particularidades. Nem todos são iguais, mesmo que pertençam ao mesmo estrato social, como tão bem apontaram, por exemplo, O Som ao Redor e Zona do Crime. Trabalhasse com mais detalhes as situações apresentadas, Naishtat teria estreado com ainda mais contundência.
E, fundamentalmente, com provocações que não se encerram em si próprias.
Bem Perto de Buenos Aires
(Historia del Miedo)
De Benjamín Naishtat.
Suspense, Argentina/França/ Alemanha/Uruguai/Catar, 2014, 79min. Sessões às 16h10min e às 19h30min, na Sala Eduardo Hirtz da Cinemateca Paulo Amorim (Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre).
Cotação: 3 estrelas (de 5).