Eles se conheceram em um acampamento de férias, em 1995, e, desde então, são amigos e coautores de oito filmes juntos - inclusive um dos maiores sucessos do cinema francês recente: a comédia dramática Intocáveis (2011), que levou mais de 40 milhões de espectadores ao cinema no mundo todo, cerca de 1,1 milhão deles só aqui no Brasil.
Na quinta-feira passada, os diretores Olivier Nakache e Eric Toledano estiveram no Rio, integrando a comitiva de 12 realizadores e atores que veio ao país divulgar o Festival Varilux de Cinema Francês 2015 - em cartaz até amanhã em 50 cidades brasileiras.
A dupla participa da mostra com sua mais recente produção: o ótimo filme Samba (2014), em exibição na mostra hoje em Novo Hamburgo, Pelotas, Santa Maria e Porto Alegre - na Capital, também nesta quarta-feira.
A nova produção de Nakache e Toledano repete a parceria com Omar Sy - prêmio César de melhor ator por Intocáveis: em Samba, ele vive o personagem-título, um imigrante senegalês em Paris, que conta com a ajuda de um trabalhador ilegal que se apresenta como brasileiro (o excelente Tahar Rahim, do filme O Profeta) e de uma executiva que trabalha como voluntária em uma ONG (Charlotte Gainsbourg).
Simpáticos e muito bem-humorados, os cineastas franceses conversaram com Zero Hora - e provaram que a sintonia entre eles é tanta que um chega a completar as frases do outro.
O clima descontraído marcou a entrevista desde antes da primeira pergunta, com Nakache divertindo-se ao falar em um português arrastado expressões e palavras como "tudo bem", "obrigado", "seleção" e "David Luiz".
- Nós dois temos a mesma sensibilidade com relação ao tema dos imigrantes ilegais na França, que trabalham à noite em empregos como faxineiro ou lavador de pratos.
Sabíamos que queríamos falar desse assunto, mas não sabíamos como, até surgir o romance Samba, de Delphine Coulin (editado no Brasil pela Companhia das Letras).
O assunto era pesado para nós, mas o livro trouxe essa sincronia entre drama e humor - explicou Toledano, enquanto o companheiro zoador ecoava palavras em português como " sensibilidade" e até a inexistente "sincronidão".
Os parceiros garantem que o êxito de Intocáveis não representou cobrança ou pressão para que repetissem a dose nessa nova comédia dramática - Samba também foi bem nas bilheterias francesas, com mais de 3 milhões de ingressos vendidos.
- A vida é curta e a regra é não ter pressões. Minha mãe dizia: vá com calma.
"Take it easy my brother Charles" (referindo-se à canção de Jorge Ben Jor, presente na trilha sonora de Samba). Não há razão para se estressar. Todo mundo sonha com o sucesso, todo mundo continua depois disso. Nós temos 40 anos e atingimos o sucesso, ótimo. Mas o mais importante é termos responsabilidade com o tema.
Ser autêntico com o que você quer fazer, contar e filmar hoje - definiu Toledano.
Por conta da repercussão internacional de Intocáveis, Nakache e Toledano receberam convites para filmar nos Estados Unidos - mas o sistema de produção em Hollywood não seduziu os criadores.
- Os americanos fazem sequências infinitas, 19 filmes da mesma série. Não é cinema, é uma receita de bolo. Prefiro estar no sistema de arte a estar no do marketing, do negócio. Enquanto eu viver neste mundo, estarei tranquilo comigo mesmo - afirmou Toledano.
- Recebemos muitos roteiros, fomos a Los Angeles, encontramos atores e produtores.
Mas sabe de uma coisa? Temos algo especial na França: liberdade. Por que trabalhar em Hollywood com alguém sempre por trás observando tudo o que a gente faz? Queremos fazer um filme em inglês um dia, mas da nossa maneira, não da deles - arrematou Nakache.
* O repórter viajou a convite do Festival Varilux