A autêntica soul music não morreu. Sharon Jones and The Dap-Kings parecem ter vindo diretamente dos anos 1960 para dizer isso ao mundo. Sexta-feira à noite é Porto Alegre que recebe a mensagem, condensada em 90 minutos dos poderosos vocais de Sharon e dos animadíssimos grooves dos Dap-Kings. Depois da elogiada passagem por São Paulo em 2011, o grupo agora estreia a turnê brasileira do disco Give The People What they Want na Capital e depois segue para Curitiba, São Paulo, Rio e Paraty.
Sharon despontou para a fama nos anos 2000, mas canta há muito mais tempo. Nasceu em 1956 e começou, ainda criança, como muitas divas do soul: no coro da igreja. Passou os anos 1970 fazendo backing vocals em Nova York, mas a carreira não decolou e, na década seguinte, precisou trabalhar por anos como carcereira e segurança para pagar as contas. Sua sorte virou apenas quando se juntou à banda The Dap-Kings para lançar, a partir de 2002, seis discos que causaram sensação.
- Quando estamos juntos, nos tornamos uma unidade, apenas um músico no palco
- descreve ela, por telefone, dos EUA.
Enquanto Sharon emociona com seu vozeirão, os Dap-Kings mandam ver no funk e no soul. Afinal, não se trata de mais uma banda de apoio. Foi a eles que o produtor Mark Ronson recorreu para criar o som do histórico Back to Black (2006), de Amy Winehouse. A formação atual inclui Homer Steinwess (bateria), Binky Griptite (guitarra), Joe Crispiano (guitarra), Fernando Velez (percussão), Dave Guy (trompete), Neal Sugarman (sax tenor), Cochemea Gastelum (sax barítono), Bosco Mann (baixo e produção musical) e os vocalistas Saundra Williams e Starr Duncan.
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O show apresentará todas as músicas de Give the People What They Want, indicado a melhor álbum de R&B no Grammy 2015. Tem tudo para se transformar numa festa, já que o disco é uma sequência dançante que só dá trégua na décima e última faixa, Slow Down, Love. Caso tivesse sido lançado há 50 anos, não ficaria deslocado entre LPs de Aretha Franklin e The Supremes. A própria Sharon, que faz questão de gravar com equipamentos analógicos antigos, é a primeira a admitir.
- Você poderia tocar nossa música no fim dos anos 1960 pensando que é daquela época - diz, emendando uma ressalva: - Mas fazemos música para o nosso tempo.
Sharon se considera uma guardiã do soul e reforça que falta reconhecimento ao gênero, hoje empacotado como R&B ou confundido com pop. Para ela, mais do que nunca, o autêntico soul é necessário:
- Escute as letras de hoje: falam sobre dinheiro, carros, discos de platina, o bumbum de alguém. Nos velhos tempos, as músicas de soul contavam boas histórias. É isso que eu e os Dap-Kings fazemos. Estamos continuando essa história, sem cantar sobre coisas materiais.
Com letras que falam de amor e superação, muitas canções do novo disco acabaram ganhando ainda mais significado para Sharon, que em 2013 foi diagnosticada com um agressivo câncer no pâncreas, pouco antes do lançamento. É o caso da excelente Stranger to my Hapiness, cujo clipe foi feito com uma Sharon ainda em quimioterapia, e Get Up and Get Out, que chega em uma nova versão ao vivo: a cantora agora dirige o refrão ("Levante e saia daqui") à doença. Recuperada, ela faz de cada show uma comemoração.
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SHARON JONES & THE DAP-KINGS
Sexta-feira, às 21h. Duração: 90 minutos (aproximadamente). Classificação: livre.
Teatro do Bourbon Country (Túlio de Rose, 80), em Porto Alegre, fone (51) 3375-3700. Estacionamento pago no shopping.
Ingressos: R$ 245 (plateia baixa, plateia alta e mezanino), R$ 290 (plateia VIP), R$ 340 (plateia premium) e R$ 350 (camarote). À venda na bilheteria do teatro, das 10h até a hora do show, no site ingressorapido.com.br e pelo fone (51) 3231-4142 (de segunda a sexta, das 9h às 12h e das 14h às 18h, com taxa de R$ 25 para entregas na Capital).
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Assista ao clipe de Stranger do my Happiness: