Sharon Jones and The Dap-Kings abrem a turnê brasileira do disco Give The People What they Want em Porto Alegre, nesta sexta-feira. Dos Estados Unidos, a cantora conversou por telefone com Zero Hora sobre o show, a condição da música soul atualmente e também sua luta contra o câncer.
Como será o show desta sexta-feira?
Nós vamos tocar, basicamente, todas as músicas do novo álbum (Give the People What They Want) e provavelmente mais algumas coisas. Vamos tocar Get Up and Get Out em uma versão diferente porque essa música ganhou um outro significado para mim depois que passei pelo susto do câncer.
Como a música será tocada?
No disco, essa música tem uma batida country. Mas no show... Sabe como a Tina Turner faz (em Proud Mary)? Ela começa devagar "left a good job in the city" e depois vai rápido. É assim que fazemos no show. E nessa música eu conto às pessoas como passei pelo câncer e disse ao câncer para levantar e ir embora.
Eu ia lhe perguntar o mesmo sobre a música Stranger to my Happiness já que ela já estava pronta quando você foi diagnosticada, mas o vídeo (em que Sharon aparece sem cabelo) só foi feito depois.
Bom, nós gravamos o vídeo de Stranger to my Happiness enquanto eu ainda estava fazendo quimioterapia. Foi em outubro e a minha última sessão foi na véspera do Ano Novo. Eu levantava, cantava e logo voltava para a minha cadeira, me cobria com um cobertor, eu estava fraca a ponto de mal conseguir voltar para a minha cadeira. O vídeo levou oito horas para ser gravado e depois que terminei fiquei de cama por quatro dias porque a minha resistência acabou depois de ter dedicado toda aquela energia ao vídeo.
Você diria que o câncer mudou a sua maneira de ser e de cantar?
Eu não acho que ele me mudou. A única mudança que você pode ver é o meu cabelo. Sempre que eu subo ao palco, dou 110%, porque toda vez pode ser a última. Eu quero me livrar do câncer, mas em dezembro encontraram outro tumor e em janeiro eu fiz outra operação. só em fevereiro pude voltar aos palcos.
Você não está completamente livre da doença então?
O meu próximo check-up é no final de junho e estou rezando para que não encontrem mais nada na tomografia.
Alguma vez na vida você parou de cantar?
Por um bom tempo eu trabalhei como carcereira. Mas eu nunca deixei totalmente de cantar, eu ainda integrava bandas de casamentos e cantava aos finais de semana. A única vez em que parei de cantar foi nos meses entre maio de 2013 e setembro de 2013 porque eu estava doente e não conseguia cantar, não tinha fôlego.
Existem tantas cantoras incríveis nos Estados Unidos. O que é preciso fazer para se destacar e porque demorou tanto para que você fosse descoberta?
Nós nos destacamos porque continuamos fazendo o que estamos fazendo. A música soul. Não há muitas bandas que se apresentam como bandas de soul por aqui, há várias que tocam funk e R&B, mas nós realmente somos uma banda de soul e funk. E tentamos fazer um soul verdadeiro, gravamos de modo analógico, sem usar equipamentos digitais. Acho que é isso que nos destaca de todo mundo.
Então o segredo é persistência?
Sim, você definitivamente precisa disso.
Há alguns gêneros musicais que soam datados hoje em dia, mas isso não parece afetar o soul. Por quê?
Sabe por quê? Porque essa garotada de hoje não consegue cantar soul. Para cantar soul, você precisa ter uma boa base de gospel. E não tem a ver com ser negro. Agora, por exemplo, estou em turnê com a Tedeschi Trucks Band, e a Susan e o Derek fazem de tudo, blues, rock, R&B, soul. Agora descobri que ela cantava em um coro gospel quando era mais nova. Isso ajudou ela. Muitos artistas mais novos não tem esse passado. Eles só imitam e é por isso que são chamados de "retrô".
Vi uma entrevista em que você menciona que os cantores de soul hoje apenas querem reconhecimento. O que está impedindo eles de conseguirem isso?
É a indústria da música! Os selos. Muitos pensam que a música soul morreu no inicio dos 1970. Mas isso não é verdade! Eu sou uma cantora de soul, Charles Bradley é um cantor de soul, Lee Fields é um cantor de soul. Ainda há muita gente cantando soul e nós precisamos de uma categoria para isso. Em fevereiro, fui indicada ao Grammy de melhor álbum de R&B. Se tivesse sido indicada pelo melhor álbum de soul, talvez tivesse vencido.
Você diria que estamos tendo um revival de soul?
Não sei. As pessoas acreditam que estamos tendo um revival de soul, mas o que se está fazendo não é soul, é pop.
E quem está fazendo um bom trabalho para manter o soul vivo atualmente?
Nós estamos! Sharon Jones and the Dap-Kings. Há muitos selos, mas eu não conheço todos, não sou boa com nomes. Há muitos grupos bons na Austrália. A maioria está na Europa. Aqui nos Estados Unidos o que nós chamamos de soul não é soul, é R&B e pop.
Você acha que a sua música com os Dap-Kings poderia ter sido feita nos anos 1960?
Você poderia tocar a nossa música no final dos anos 1960 pensando que é daquela época, mas fazemos música para o nosso tempo.
E o que faz você dizer isso?
Quando cantamos soul, as músicas tem significado. Não vou citar nomes, mas hoje tem gente que quando sobe no palco está seminu e sobre o que está cantando? Isso é vender sexo. Nos velhos tempos, as músicas de soul contavam boas histórias. É isso que eu e os Dap-Kings fazemos. Estamos continuando essa história, sem cantar
sobre coisas materiais. Mas se cantamos sobre coisas materiais, fazemos isso com decência.
Descreva a sua conexão com os Dap-Kings: o que acontece quando vocês estão juntos nos ensaios ou nos palcos?
Bom, quando estamos ensaiando, simplesmente estamos felizes de estar ali, fazendo coisas. Mas quando estamos no palco, nos tornamos uma unidade, apenas um músico no palco. Tento explicar isso para as pessoas: nós nos alimentamos um do outro e é isso que nos torna diferentes de todas as outras bandas. Quando você vai ao nosso show, fazemos com que se sinta parte daquilo.
Já estão trabalhando em um novo álbum?
Em janeiro nós acabamos um álbum de natal que está prestes a ser lançado. Em agosto vamos trabalhar no nosso próximo álbum, que vai sair em 2016. Vai ter algumas partes orquestradas. Quando nós estivermos aí no Brasil, é possível que a gente inclua uma canção nova no repertório para testar.
SHARON JONES & THE DAP-KINGS
Sexta-feira, às 21h. Duração: 90 minutos (aproximadamente). Classificação: livre.
Teatro do Bourbon Country (Túlio de Rose, 80), em Porto Alegre, fone (51) 3375-3700. Estacionamento pago no shopping.
Ingressos: R$ 245 (plateia baixa, plateia alta e mezanino), R$ 290 (plateia VIP), R$ 340 (plateia premium) e R$ 350 (camarote). À venda na bilheteria do teatro, das 10h até a hora do show, no site ingressorapido.com.br e pelo fone (51) 3231-4142 (de segunda a sexta, das 9h às 12h e das 14h às 18h, com taxa de R$ 25 para entregas na Capital).