Os dois atores principais de O Vendedor de Passados, Lázaro Ramos e Alinne Moraes, conversaram com Zero Hora entre a sessão diurna do filme, realizada para a imprensa, e a pré-estreia noturna, semana passada na capital paulista. A seguir, a dupla fala sobre seus personagens no longa de Lula Buarque de Hollanda e outros novos trabalhos - o que, no caso dela, inclui as gravações da nova novela das seis na serra gaúcha.
Como é compor um personagem trabalhando sobre o mistério com relação a quem ele de fato é?
Lázaro Ramos - Foi tudo em cima da não certeza, da projeção. Acho que o filme é sobre isto: ele se apaixona pelo personagem da Alinne (Moraes) projetando nela uma mulher que ela não é. Uma mulher que ele criou. Mas há outra coisa que, para mim, é central: a questão da identidade, de não saber de onde vem. Quando meu personagem encontra a mãe dele, pedi para o Lula (Buarque de Hollanda) que ele perguntasse a ela: "Mãe, qual é a minha origem?". Isso é muito forte, não saber de onde veio, quais são os próprios antepassados.
Vem daí, inclusive, a paixão dele pelo passado, por pesquisar, por descobrir o que aconteceu.
Lázaro Ramos - Sim. Uma coisa importante para mim, ao construir o personagem, foi internalizar essa paixão e conseguir manifestá-la na maneira com a qual ele olha fotos e objetos antigos. Quando toquei em antiguidades, no filme, procurei imitar as senhorinhas da feira de antiguidades da Praça XV (no Rio de Janeiro). É lindo o carinho que elas têm por aquelas coisas velhas. Isso é algo muito interessante, porque vivemos numa sociedade que valoriza o passageiro, o descarte, o celular que agora é top mas que no ano que vem não valerá nada. A paixão pelo tempo e pela construção da memória também é uma questão muito legal que está na história.
O filme é muito diferente do livro. Até que ponto você se prendeu ao personagem do Agualusa para construir o protagonista do longa?
Lázaro Ramos - São duas obras diferentes, que levam um arquétipo de personagem para dois contextos diferentes. São dois prazeres, duas formas de fazer o arroz.
Em um filme sobre identidade, faz todo o sentido.
Lázaro Ramos - Pois é. Você reparou que a gente vive um tempo em que cada fato gera várias versões, notícias que desmentem outras notícias, e tudo muito rápido? Não dá para acreditar em tudo o que se lê. Essa incerteza sobre a própria história está no filme. Mas te digo que só encontrei meu personagem quando deixei o livro de lado e foquei na realidade brasileira. Esquecer o Agualusa, para mim, foi libertador.
Lázaro Ramos disse (na entrevista acima) que só conseguiu encontrar o personagem dele quando deixou o livro de lado e o trouxe para o contexto brasileiro. Como foi para você construir alguém cuja história pregressa é um mistério absoluto?
Alinne Moraes - Foi um desafio marcante na minha carreira, algo novo e difícil. Acabou sendo fundamental ter contato com algumas personagens que conseguiram pôr uma máscara de inexpressão, de falta de sentimentos... Lula (Buarque de Hollanda) me deu referências para que eu conseguisse vencer esse desafio de me despir de qualquer traço de passado que minha expressão pudesse carregar.
Foi um exercício difícil para você?
Alinne Moraes - Tudo foi acontecendo aos poucos, nos ensaios, em um trabalho conjunto com os técnicos e os parceiros de elenco. Trabalhar com o mistério, com a ideia de não passar para o espectador o que você está sentindo, era algo muito novo para mim. Este filme, por isso, além de um desafio, foi muito recompensador. Me deu uma personagem muito diferente de todas as que eu já havia feito, além de me permitir trabalhar com tipos de referências com as quais eu nunca havia trabalhado.
Seus personagens no cinema têm sido bem diferentes entre si, mas são mulheres que encontram grandes homens - foi assim em O Homem do Futuro (2011), Heleno (2011), Tim Maia (2014)...
Alinne Moraes - Em alguns casos, não é bem a mulher, mas aquilo que vai mover esses grandes homens. Em O Vendedor de Passados, em alguns momentos pareço ser a antagonista! Acho que isso tudo revela a força dessas mulheres.
Você vai filmar Além do Tempo, a nova novela das seis da Globo, no Rio Grande do Sul. Quais as suas expectativas para esse novo projeto?
Alinne Moraes - É uma novela de época, que estreia em julho e na qual vivo um triângulo com Paolla Oliveira e Rafael Cardoso. Já filmamos em Santa Catarina, e, a partir desta quarta-feira, fico um mês em São José dos Ausentes (RS). Já ouvi falar que lá é frio. Espero que não muito...
O VENDEDOR DE PASSADOS
De Lula Buarque de Hollanda
Drama, Brasil, 2015
Duração: 82 minutos
Classificação etária: 12 anos.
Estreia nesta quinta-feira nos cinemas. Nas salas da rede GNC, titular do Clube do Assinante tem 50% de desconto. Saiba mais em: https://clubedoassinanterbs.com.br/
Cotação: bom.
*O repórter viajou a São Paulo a convite da Imagem Filmes