Ao receber a Palma de Ouro do Festival de Cannes, neste domingo (24/05), o diretor francês Jacques Audiard fez uma brincadeira:
- Agradeço a Michael Haneke por não ter filme neste ano.
A piada faz sentido não apenas porque o cineasta austro-alemão é um dos principais vencedores da história do maior festival de cinema do mundo (ganhou duas Palmas de Ouro, com Amor e A Fita Branca, além de ser premiado com outros três longas): 10 anos atrás, com Caché, Haneke fez um dos mais icônicos filmes sobre o drama dos imigrantes na França, uma das grandes questões do cinema europeu contemporâneo.
Audiard levou o mais cobiçado troféu de Cannes 2015 com Deephan, longa que conta a história de um ex-guerrilheiro do grupo Tigres de Libertação da Pátria Tamil, do Sri Lanka, que chega à França com um passaporte falso ao lado de uma jovem e de uma criança que se passam por sua família. Diretor consagrado com O Profeta (2009) e Ferrugem e Osso (2012), Audiard apresentou neste novo filme o ator não profissional Antonythasan Jesuthasan, que é natural do Sri Lanka.
A consagração de Deephan foi recebida com alguma surpresa pela crítica internacional, que apostava em filmes como Mountains May Depart, do chinês Jia Zhang-ke, que saiu de mãos abanando do evento.
Os outros favoritos dividiram os demais prêmios: Son of Saul, do jovem húngaro László Nemes, ficou com o prêmio da crítica e também com o Grand Prix, espécie de medalha de prata do festival, enquanto o veterano realizador chinês Hou Hsiao Hsian levou o troféu de melhor direção pela produção taiwanesa The Assassin.
As especulações para o troféu de melhor atriz recaíam sobre Cate Blanchett, mas o júri presidido pelos irmãos Ethan e Joel Coen preferiu sua colega de elenco Rooney Mara, com quem ela divide a cena em Carol, de Todd Haynes, sobre a relação homossexual de duas mulheres nos anos 1950. Rooney Mara dividiu o troféu com Emmanuelle Bercot, de Mon Roi.
O melhor ator foi o francês Vincent Lindon, que protagoniza La Loi du Marché. The Lobster, com Rachel Weisz e Colin Farrell, primeiro longa em língua inglesa do grego Yorgos Lanthimos (de Dente Canino), ficou com o prêmio especial do júri.
Duas coproduções com o Brasil saíram premiadas em mostras paralelas: La Tierra y la Sombra, do colombiano Cesar Augusto Acevedo, ganhou o troféu Câmera de Ouro, enquanto Paulina, do argentino Santiago Mitre, saiu com o principal prêmio da Semana da Crítica. A produção islandesa Rams, de Grimur Hakonarson, venceu o Um Certo Olhar, mais importante competição paralela do festival francês.
Os premiados
Palma de Ouro: Dheepan, de Jacques Audiard
Grand Prix: Son of Saul, de László Nemes
Melhor diretor: Hou Hsiao Hsien, por The Assassin
Prêmio especial do júri: The Lobster, de Yorgos Lanthimos
Melhor atriz: Rooney Mara, por Carol (de Todd Haynes), e Emmanuelle Bercot, por Mon Roi (de Maïwenn)
Melhor ator: Vincent Lindon, por La Loi du Marché, de Stéphane Brizé
Melhor roteiro: Michel Franco, por Chronic
Prêmio da crítica/mostra principal: Son of Saul
Seção Um Certo Olhar: Rams, de Grimur Hakonarson
Prêmio da crítica/Um Certo Olhar: Masaan, de Neeraj Ghaywan
Seção Câmera de Ouro: La Tierra y la Sombra, de Cesar Acevedo
Semana da Crítica: Paulina, de Santiago Mitre
Palma de Ouro de melhor curta-metragem: Waves 98, de Ely Dagher