Trailer lançado, classificação etária definida: depois de quase 20 anos, parece que Chatô, o Rei do Brasil, longa-metragem dirigido por Guilherme Fontes, finalmente chegará aos cinemas.
A cinebiografia de Francisco Assis Chateaubriand, o Chatô (1892 - 1968), magnata das comunicações que foi uma das personalidades mais influentes no Brasil do século 20, enfrentou diversos percalços, arrastando-se por quase 20 anos. A produção, baseada na biografia homônima de Fernando Morais (de 1995), teve início em 1997, mas empacou três anos depois, devido a suspeitas de irregularidades na captação de recursos do projeto via renúncia fiscal.
Chatô ganha trailer e classificação etária indicativa
Guilherme Fontes garante que filme está pronto para estrear
Confira, a seguir, o que mudou no cinema nestas quase duas décadas.
Os filmes, ontem e hoje
Em meados dos anos 1990, o cinema brasileiro vivia uma fase de efervescência, que logo foi batizada de Retomada - era a volta da produção, depois da crise desencadeada com o fim da Embrafilme, decretado pelo governo Collor em 1990. As indicações ao Oscar de O Quatrilho (1995) e O que É Isso, Companheiro? (1997), seguidas dos diversos prêmios internacionais para Central do Brasil (1998, que concorreu a duas estatuetas) ajudavam a ampliar o público dos filmes nacionais, filmes estes que passaram a ser ser vistos de maneira mais positiva pelo senso comum após a fase das pornochanchadas dos anos 1970 e 80.
A implementação da Lei Rouanet e dos demais mecanismos de financiamento da cultura por meio de renúncia fiscal, no fim da década de 1990, elevou nossa cinematografia a um patamar superior. A consagração de títulos como Cidade de Deus (2002), pouco depois, tem a ver com essa evolução. Aqueles anos de crescimento e reconhecimento permitiram sonhar com longas-metragens maiores, tanto em estrutura de produção quanto em orçamento - e pretensões de ocupação de mercado.
Isso, no entanto, mudou nestes quase 20 anos. Hoje há uma polarização da produção nacional, dividida em grande parte entre as comédias populares e suas altas bilheterias e os títulos de nicho, premiados em festivais e em geral apreciados pela crítica, mas de ocupação de mercado cada vez mais restrita. No meio disso estão os filmes dramáticos e de outros gêneros, que precisam lutar por espaço e conviver com arrecadações muitas vezes desproporcionais aos seus custos - para arrecadar mais do que custou, em valores brutos, Chatô teria de pelo menos se aproximar de 1 milhão de ingressos vendidos.
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As tecnologias, ontem e hoje
Hoje, o cinema vive uma fase de transição. Em países como os EUA, as projeções em película de 35mm, formato tradicional e histórico das salas escuras durante todo o século 20, já ficaram para trás. O padrão DCP (sigla em inglês para "empacotamento digital de arquivos de cinema"), homologado pela indústria de Hollywood para projeção em alta definição, vem sendo implantado em todo o mundo. Mesmo países atrasados em sua implementação, caso do Brasil, já estão com grande parte de suas salas operando nesse sistema. Chatô foi rodado em 35mm entre 1999 e 2004. Para a estreia nos cinemas, o longa terá de passar pelo processo de digitalização das imagens para o padrão DCP - caso contrário, terá opções restritas de projeção, dada a escassez de distribuidores e exibidores que ainda usam o 35mm. Esse processo de digitalização tem sido comum em projetos de televisão e publicidade que usam o 35mm como opção estética, mas, em filmes de orçamento mais restrito, que depois terão de ser convertidos para o DCP, isso tem sido cada vez mais raro.
Outra questão relevante quando se trata de tecnologia de cinema é o desenvolvimento da pirataria e a mudança no comportamento do espectador. Se, nos anos 1990, a única preocupação dos produtores e distribuidores de cinema era com as cópias piratas de DVDs, hoje o compartilhamento ilegal de arquivos digitais ganhou muitos adeptos - e, em diversos casos, tem sido a única possibilidade de se ver determinados filmes. Os executivos da indústria que antes temiam a circulação ilegal de seus longas também trataram de valorizar a experiência da sala de cinema, apostando em tecnologias como Imax e 3D para sobreviver na era das televisões de 60 polegadas e da distribuição de conteúdo on demand.
Essa realidade não afeta tanto os filmes brasileiros distribuídos apenas no circuito nacional, como Chatô, mas seu lançamento em meio a uma grande mudança de comportamento do público (que tem consumido em massa os títulos de super-heróis e as comédias populares e deixado de lado alguns longas dramáticos) pode fazer a diferença nos resultados obtidos pelo filme.
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