Todo mundo já ouviu esta frase na saída do cinema: "O livro é muito melhor!". Decepcionar-se com a adaptação de um romance já lido e admirado é fato tão comum que seria interessante investigar alguns julgamentos que me parecem apressados e preconceituosos. No entanto, hoje quero falar de uma experiência pessoal e recente que é exatamente o contrário: a decepção com a obra original. E, no caso em questão, com a própria vida real.
O seriado de TV Masters of Sex conta a vida de Bill Masters e Virginia Johnson, a famosa dupla que revolucionou o estudo do sexo nos Estados Unidos nas décadas de 1960 e 70, com consequências culturais importantíssimas, inclusive para o feminismo e a psicanálise. Masters of Sex tem qualidades inegáveis, como o roteiro de Michelle Ashford e as brilhantes interpretações de Michael Sheen e Lizzy Caplan. Assisti às duas primeiras temporadas em ritmo de fissura, ou seja, um episódio atrás do outro, usando todas as brechas possíveis nos dias úteis e fazendo maratonas nos fins de semana. Quando terminei, estava com síndrome de abstinência. Solução? Comprei o livro biográfico que deu origem à série, escrito por Thomas Maier, baseado em extensa pesquisa e muitas entrevistas. São 447 páginas, que cobrem a infância, o início da vida profissional, o casamento e o divórcio de Bill e Virginia, com grande riqueza de detalhes.
Só que, quando terminei o livro, a decepção com as vidas reais dos personagens, pelo menos como relatadas por Maier, era imensa. A trama da série é muito mais divertida, dramática, cheia de reviravoltas e coadjuvantes maravilhosos. Maier ignora o reitor homossexual que é chantageado por Bill para que a pesquisa continue; a prostituta ambiciosa que casa com um ricaço e depois vira secretária de Bill; a esposa do reitor, que nunca tivera um orgasmo e descobre que a culpa não era dela. Onde estão? Apenas no roteiro da série, que toma a liberdade de juntar várias pessoas reais para criar pessoas ficcionais, além de inventar uma grande trama paralela para a esposa de Bill. Como já dizia Aristóteles, a poesia é superior à história, porque ela é capaz de chegar à essência dos fatos, enquanto a história fica presa nos detalhes.