Há alguns dias, conversava com um amigo interiorano, como eu, e veio a questão: a forma com enxergávamos viver em Porto Alegre e a maneira como estabelecemos nossa relação vivendo na Capital. Para quem, assim como nós, veio de alguma cidade distante do Guaíba, parece que poucas foram as pessoas que nasceram no Porto dos Casais.
Buscamos certo tipo de identificação, um princípio de conversa e, às vezes, até uma "família" conhecida que nos sirva de referência daquela pessoa que conhecemos. E, de fato, acabamos criando um círculo de relações com quem não é daqui.
Porto Alegre esteve de aniversário há poucos dias e, apesar de ter vindo "de fora", já é minha casa há quase 20 anos. Incrível perceber que é a cidade que mais morei em minha vida, mas na qual ainda busco uma referência que me leve de volta a uma suposta casa que, pela vida cigana da minha família, nem sei bem onde fica.
Há quem brinque comigo que sou de várias cidades. E sou mesmo. Vivi, na infância, de galho em galho acompanhando meu pai e suas mudanças. Levei de cada cidade um pedaço que trago em lembranças até hoje: amigos e memórias diversos.
Cada vez que vinha para a Capital, era como visitar um mundo novo, onde as novidades estavam, onde as coisas aconteciam. Uma das minhas primeiras memórias da cidade dos Jacarandás floridos foi quando vim gravar a música Vitória Régia. Eu tinha 12 anos e nunca havia entrado em um estúdio de gravação profissional. Imaginem! Acho que veio daí meu desejo inflexível de estudar e viver aqui.
Porto Alegre é minha casa desde 1996, quando, assim como muitos jovens, cheguei para estudar, talvez imaginando voltar para casa formada. A verdade é que nunca mais voltei, e Porto Alegre tornou-se meu lar, assim como se tornou de tantos interioranos cujos corações ela também adotou.
Quando buscamos essas referências de quem nasce em outras cidades, acredito que busquemos outros irmãos adotivos e um elo que nos prende às origens. E isso, assim como o amor de todos nós pela Capital, também é lindo. É carregar conosco a nossa própria história, mesmo que ela siga na "cidade grande" de coração maior ainda. Ainda dá tempo: parabéns Poa!