Difícil um fã de heavy metal ter saído desapontado ao fim da jornada de dois dias do festival Monsters of Rock, realizado neste fim de semana, na Arena Anhembi, em São Paulo. Entre rostos pintados e sujeitos vestidos de viking, o que se viu ali foi um mar de camisetas pretas e cabelos compridos sacolejando para todos os lados, seja com Ozzy Osbourne, encerrando a noite de sábado, seja com o Kiss, no domingo. E, pelo que se viu em São Paulo, a legião de fãs gaúchos do gênero musical deverá ter prato cheio na edição do evento em Porto Alegre, que acontece nesta quinta-feira.
Única atração ao se apresentar nos dois dias de evento, o Judas Priest executou com perfeição a função de reunir diferentes tipos de fãs de heavy metal e suas quase infinitas vertentes. Afinal, quem não quer juntar a Rob Halford nos urros de Breaking the Law? Ou ainda com outros clássicos, tais como Victim of Changes ou a sempre infalível Metal Gods?
O Priest une o vigor e a testosterona de um Manowar, por exemplo, sem deixar de lado o caráter lúdico do show, uma arte dominada com perfeição pelo Kiss, banda encarregada por encerrar a noite de domingo.
Como no sábado, o Priest fez aquilo que se espera de um show de metal pesado e não poupou esforços para encarar os fãs paulistanos pela segunda noite seguida. A apresentação de ontem foi mais regular, contudo, já que no sábado, a ausência repentina do Motörhead, que cancelou a performance pela internação do vocalista Lemmy Kilmister, alterou os planos de Halford e companhia.
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Diante de uma plateia menos convidativa e com uma performance estendida, a banda talvez tenha ficado abaixo do que se poderia esperar - e do que mostrou em shows anteriores no país. No domingo, foi igual, mas diferente. Banda e público entraram em comunhão e a tal magia do heavy metal funcionou melhor.
O segundo dia do festival abriu com a única atração completamente brasileira, Doctor Pheabes - alguns outros brasileiros subiram no palco, é bom lembrar, caso de Andreas Kisser, guitarrista de Sepultura e De La Tierra, e o baterista Aquiles Priester, no comando das baquetas do Primal Fear.
A sequência mostrou a farofa em estado puro, brilhantemente encenada pelo Steel Panther. Exagerados, escatológicos, excessivamente cênicos, eles encarnam todo o glam e hard rock oitentista. São toneladas de laquê e ventiladores próximos ao palco, com letras capazes de deixar ruborizado até o mais assanhado fã de heavy metal. Cada verso zomba, esculacha e sacaneia. São propositalmente machistas, cantam a mulher objeto e o amor livre.
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Na sequência, um virtuosismo chocante de Yngwie Malmsteen. Chega a ser chato ver um sujeito esmiuçando a guitarra, em um duelo contra o tempo, na busca de quebrar o recorde de maior quantidade de notas executadas por minuto. O fim da apresentação, com destruição das guitarras, deram algum ânimo. Mas, convenhamos, depois que Jimi Hendrix queimou uma guitarra no palco, nada mais parece ser tão inovador assim.
Já o Unisonic emula a velocidade. Speed metal - sim isso existe - de classe, com herança direta do Helloween. Michael Kiske, vocalista da famosa banda alemã, fundou o Unisonic, em 2009. Embora as canções da nova safra sejam interessantes, são os hits do Helloween que fizeram a Arena do Anhembi vibrar de verdade.
Os níveis de testosterona subiram a níveis altíssimos com Manowar. Talvez a segunda banda mais esperada da noite, numa contagem superficial de logos em camisetas escuras. São canções sobre heróis, vitórias e tradições nórdicas.
Ainda tem algo de farofa, como o Steel Panther, mas eles, neste caso, se levam a sério.
- Prometemos que viríamos e aqui estamos. Já prometo que vamos voltar de novo - disse Eric Adams, em um português pausado, porém assustadoramente bom.
- Vocês têm um lugar especial no nosso coração. Algum artista que vem ao Brasil fala português brasileiro com você. Quem não gosta de heavy metal, o que nós dizemos? Vai se f... - continuou o vocalista, para fazer o público enlouquecer.
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Organização
Filas são comuns em festivais, mas ainda há uma clara necessidade de reinvenção de festivais de grande porte. O Monsters of Rock mantém apenas um palco e isso gera atraso e um grande fluxo de pessoas indo e vindo a cada início de show. Caminhar não era um problema, mas todos os serviços, nos intervalos ficam abarrotados.
O Monsters of Rock encerrou a sexta edição com uma força muito maior do que dois anos atrás. Heavy metal puro, sem pender para facilidades pop. Se as atrações principais são velhos conhecidos nos palcos brasileiros, como Ozzy, Judas Priest e Kiss, isso é um reflexo da renovação deficitária de um gênero que precisa de novidades fortes o bastante para encabeçar um festival gigante como esse.
*Agência Estado