Costumo situar, ainda que apenas para efeito didático e provisório, a origem da canção regional de inspiração rural na obra de Barbosa Lessa. Evidentemente que existem ocorrências anteriores, como Prenda Minha, canção de domínio público registrada por Mário de Andrade em 1928 no livro Ensaio sobre a Música Brasileira e gravada pela primeira vez por Almirante e Paulo Tapajós em 1935.
A canção popular brasileira é de uma notável riqueza de estilos, e cada período histórico atua no sentido de destacar ou de esmaecer este ou aquele. As marchinhas, os sambas-canções, o baião, o samba e, mais recentemente, a chamada música sertaneja, que pouco guarda do universo caipira original, e o pagode, que tenta uma atualização do samba tradicional, diga-se de passagem, no mais das vezes, de duvidosa solução estética, fazem parte de um amplo espectro classificatório. Classificação essa que se dá pelo ambiente cultural de origem, e suas implicações sociais, e até por razões mercadológicas.
Quando Lessa e seu grupo de jovens amigos, no final da década de 1940, constata não haver canções para se cantar, começa a compor suas valsas, toadas, milongas, dando início à construção do nosso cancioneiro. Mais tarde, ele classifica duas vertentes desse cancioneiro: a regionalista e a tradicionalista.
A primeira - o gauchismo de bombachas gastas e de pé no chão - com seus expoentes pioneiros Tio Bilia, Irmãos Bertussi, Gildo de Freitas e Teixeirinha; a outra - o gauchismo em traje de gala - com seu grande divulgador, o Conjunto Farroupilha. Atualmente, há uma profusão de nomenclaturas - tentativas de explicação que no fundo mais confundem. Fala-se em música galponeira, nativista, gauchesca, gaudéria: reduções. Prefiro, se for necessário classificar, designar este gênero como canção regional, de inspiração rural ou folclórica, em suas múltiplas formas: do chão batido dos galpões à infinitude das galáxias.