Numa vida em que tudo aconteceu depressa demais, Elis Regina (1945-1982) rompeu com a prudência. A despedida prematura, aos 36 anos, não foi obstáculo para que esse furacão de timbre inigualável continue sendo lembrado como uma das mais versáteis intérpretes da música brasileira, se não do mundo. Se estivesse viva, completaria 70 anos na última terça-feira. Para celebrar a data e homenagear a vida e a obra dessa cantora inesquecível, sua família lançou o site oficial da artista. Mas vem muito mais por aí.
Elis Regina ganha site em dia no dia em que completaria 70 anos
Descrito como um presente dos filhos e um movimento de gratidão aos fãs, o site (elisregina.com.br) é encabeçado por João Marcelo Bôscoli, filho mais velho da cantora. O projeto reúne um vasto material. São mais de 500 fotos, vídeos inéditos e áudios exclusivos. Lá, os apreciadores da obra da Pimentinha, como foi carinhosamente apelidada pelo poeta Vinícius de Morais, podem fazer o download gratuito do livro Viva Elis, de Allen Guimarães, que conta a biografia artística da cantora.
Para o segundo semestre, está previsto o relançamento do icônico álbum Elis, de 1972. Com áudio restaurado e disponibilizado em serviços de streaming de música digital, o disco reacenderá na memória dos fãs toda a versatilidade da cantora. Ora envereda na dramaticidade pungente de Atrás da Porta, outra mergulha na melancolia bucólica de Casa no Campo.
Ainda em fase de pré-produção, a cinebiografia de Elis deve ser lançada no primeiro semestre de 2016. Sem nome e elenco definidos, o filme terá como cenário São Paulo, Rio de Janeiro e Paris, onde se Elis tornou a primeira artista do mundo a emplacar duas temporadas seguidas no Olympia, em 1968. Nelson Motta e Patrícia Andrade, repetem da dobradinha da montagem Elis, A Musical e assinam o roteiro do longa. Com direção de Hugo Prada, responsável por mais de 60 clipes e os DVDs Samba Meu (2008) e Coração a Batucar (2014) de Maria Rita, filha da cantora, a produção começa com Elis, aos 17 anos, chegando ao Rio, em plena Ditadura Militar. Até mesmo a ferida deixada pela sua morte prematura, em 19 de janeiro de 1982, pouco explorada até então, estará no filme.
Já o jornalista e músico gaúcho Arthur de Faria acertou com a editora Arquipélago a publicação de Elis, Uma Biografia Musical. Com cerca de 300 páginas, o livro é resultado de 25 anos de pesquisa e deverá focar mais na obra do que na vida da Pimentinha.
- Você pode ser uma grande cantora e ser, ao mesmo tempo, uma intérprete que não significa nada. E vice-versa. Mas nenhuma outra brasileira conseguiu equilibrar, em nível tão alto, as duas habilidades: cantora e intérprete. É uma das maiores do mundo. A Björk pirou o cabeção quando ouviu Elis pela primeira vez - comentou o autor, em entrevista à Zero Hora.
Não há dúvidas de que Elis Regina Carvalho Costa elevou a arte de interpretar a um grau de perfeição técnica e emocional ímpares. Mas a corajosa porto-alegrense foi além. Repórter do seu tempo, superou acusações e cobranças, esperneou e, acima de tudo, pintou com sua necessidade de cantar o retrato de uma mulher valente. Acabou velada vestindo uma camiseta - censurada pela ditadura militar no show Saudade do Brasil - que estampava a bandeira nacional com seu nome substituindo o lema Ordem e Progresso.