Para nós, mulheres, pensar em ser artista hoje parece algo extremamente natural.
Cada vez mais, a diferença entre os gêneros vai perdendo espaço pelas mãos de mulheres que se destacam atuando nos mais diferentes campos de trabalho. Sim, sei que ainda há diferença entre salários e que precisamos de leis como a Maria da Penha para defender a liberdade e a integridade de muitas de nós, mas prefiro olhar com otimismo para as conquistas, mesmo que haja muito a ser feito.
Já me questionaram sobre ser cantora no universo regional, que muita gente considera machista. Na verdade, nunca coloquei o fato de ser mulher à frente do meu trabalho artístico, ainda que as temáticas do nosso cancioneiro remetam mais ao masculino, e as mulheres ficam - ou ficaram por algum tempo - com as temáticas frágeis, de amor, de sensibilidade.
Por isso, é importante a gente destacar que conquistas assim não são minhas, da Juliana, da Angela, da Tatiéli, da Aninha, da Analise. São de todas as mulheres que vieram antes e que seguem mostrando que há espaço para as gurias e os guris na música brasileira, seja ela do estilo que for. São Marias, Fátimas, Marlenes, Estrelas, Oristelas, Lomas, que plantaram sementes que seguem sendo regadas.
No Dia da Mulher, 8 de março, nos deixou uma dessas figuras fundamentais: Inezita Barroso. Seu trabalho abrindo porteiras da música regional brasileira é inegável e eterno. Ela contrariou a família, defendeu seus sonhos e foi incansável pesquisadora das tradições populares. Foi amiga de Barbosa Lessa, apaixonou-se pela música folclórica do Sul e, com seu conjunto, lançou em 1953 o disco Danças Gaúchas, com as canções que hoje embalam dançarinos nos grupos tradicionalistas do Estado.
Atuou no cinema, na música, no rádio e na televisão, onde permaneceu até os 90 anos, até sua partida, com seu Viola, Minha Viola. Foram 35 anos como um esteio na defesa das linguagens regionais brasileiras.
Que nossas memórias mantenham vivas mulheres como ela. Que nossas conquistas reverenciem sempre as brasileiras da arte que deram voz a todas nós!