Babilônia não apostou na fórmula até então consagrada de fazer o público esperar por um beijo gay: começou arrebentando, com o muito falado beijo entre o casal Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg). E a demonstração de amor entre as duas mulheres não só parece inaugurar um agora no qual o afeto gay é tratado com a naturalidade dos demais retratados - chama a atenção à questão da idade das personagens, que, mesmo vivendo juntas há décadas, vão enfrentar preconceito ao oficializarem sua união.
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Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Fernanda destaca uma nuança de ativismo de sua personagem, que, depois de lutar pela libertação de presos políticos, trabalhará pelos direitos dos homossexuais:
- Minha personagem é totalmente humanizada e é um porta-voz desse avanços humanos. A gente tem de lutar contra isso, contra esse preconceito, as portas fechadas. São coisas grosseiras e desumanas, que fazem o ser humano sofrer. A dificuldade do papel é ser um porta-voz e não ser só politicamente correto.
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Depois da miríade de identidades de gênero e formas de se relacionar trazidas pela trama de Império, Babilônia tem, com Teresa e Estela, a chance de formar espectadores mais esclarecidos, de acordo com o psicólogo Klecius Borges, especialista em terapia afirmativa para gays, bissexuais, transexuais e travestis:
- Do ponto de vista cultural, o que acontece é que essa identidade homossexual é uma forma de defesa em uma sociedade heteronormativa, e as pessoas se autoidentificam com isso. Na minha geração, não se sabia o que era. Havia um desejo diferente, mas não havia ninguém na família para perguntar, não existiam modelos. Hoje, qualquer menino de 13 anos que sentir um desejo homoerótico já sabe que isso tem um nome, que isso é ser gay.
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Coordenador geral da ONG Somos, o advogado Bernardo Amorim destaca como positivo o tratamento dado ao relacionamento entre as duas personagens, mas lista dificuldades enfrentadas por casais homossexuais na terceira idade. Ele usa como exemplo um caso no qual buscava pensão para a companheira de uma mulher recentemente falecida:
- O que dá pra identificar é a diferença do discurso. Se, hoje, os casais homossexuais conversam abertamente sobre sexualidade, com um discurso no qual assumem de maneira mais aberta a questão do relacionamento, essa senhora não lida diretamente com a questão comigo. Como relacionamentos de pessoas do mesmo sexo são clandestinos, muitas vezes, a maior dificuldade é juntar prova da união. Quando lidamos com um relacionamento de pessoas mais velhas, que passaram por um período muito maior de ausência de direitos e percepção de aceitação por parte da sociedade, tu encontras dificuldade de juntar testemunhas, fotos, uma fala mais aberta do relacionamento.
Mas a verdade é que, com idosos gays, a Justiça falha tanto quanto com toda a população homossexual. Em um país em que o casamento gay não é reconhecido pelo Executivo e praticamente todas as conquistas da comunidade LGBT vêm do Judiciário, "a possibilidade do casamento, união estável, documentos públicos que provam o relacionamento, dá outro sentimento de pertencimento", afirma Amorim:
- Quando tu não tens nada e ainda pode ficar sem aquilo que tu construíste junto com a pessoa que viveu contigo por ausência de direitos que resguardem tua vida a dois, a clandestinidade é quase uma imposição.
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