Como toda grande obra, o filme Birdman trata de muitos temas ao mesmo tempo. Um deles é a busca pelo reconhecimento: o que faz de você realizado na vida? O público brasileiro lembrará do folclórico Pestana do conto Um Homem Célebre, de Machado de Assis, que era craque em compor polcas buliçosas, mas aspirava mesmo à grande arte de Bach, Beethoven e Mozart. Só que toda vez que pensava ter composto uma bela partitura clássica percebia que a música já existia.
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Em Birdman, de forma similar, Michael Keaton vive o ator de cinema Riggan Thomson, estrela de uma série de blockbusters que recusa o convite para um quarto filme e decide arriscar as finanças pessoais no projeto de uma peça da Broadway baseada em um conto de Raymond Carver. Nessa empreitada, ele enfrenta a resistência de uma crítica mal-humorada do New York Times (personagem um pouco exagerada no filme) e a dúvida sobre o próprio talento. É algo muito próximo da nossa realidade, em que estrelas de TV resolvem se aventurar em desempenhos mais ambiciosos no teatro. Thiago Lacerda teve de enfrentar muito nariz torcido quando interpretou Hamlet na montagem de Ron Daniels que esteve em Porto Alegre em 2013.
Birdman exibe o conflito entre ser uma estrela de cinema reconhecida pelos fãs na rua ou um ator de teatro elogiado pela crítica, mas também trata de uma outra oposição, ainda mais atual, representada pelo ponto de vista da filha de Riggan Thomson. O que vale mais para você: ser aplaudido por um punhado de espectadores na plateia por causa de um desempenho extraordinário ou visualizado por milhares de pessoas em um vídeo na internet em que aparece caminhando na rua de cueca?
Coluna
Fábio Prikladnicki: homem ou pássaro?
O colunista escreve quinzenalmente no 2º Caderno
Fábio Prikladnicki
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