Após séculos de observação atenta e investigação detalhada, este que vos coluniza chegou a uma assombrosa conclusão: uma das mais importantes coisas que muitas grandes séries têm em comum é nada mais, nada menos do que um "The". Olhem só:
The Wire, The Good Wife, The Walking Dead, The Affair, The Americans, The New Girl, The Game, The Honourable Woman, The Nick, The Bridge, The Killing, The Fall.
Comprovada a tese, permitam meus caros leitores que eu lhes dê uma sugestão: larguem tudo que estejam fazendo nesse janeiro fervente e vão ver The Fall, um dos mais poderosos casos de série começando com The que vocês jamais viram. Sério.
A história se passa em Belfast, Irlanda do Norte, e não tem quase nada a ver com o IRA, o que já é uma novidade. Uma detetive inglesa, durona, fria, insensível e com uma certa queda por gatinhos irlandeses - e não estamos falando do tipo que bebe leite na tigela e ronrona vendo o Faustão - é chamada a Belfast para investigar um assassino serial de mulheres. O assassino, por sua vez um gato com uma certa queda por beldades morenas bem-sucedidas, é mostrado no seu cotidiano, em seus momentos mais assustadoramente normais, além dos outros, claro.
A série teve uma primeira temporada com cinco episódios, e o sucesso trouxe uma segunda temporada com seis episódios que acaba de ir ao ar na Grã-Bretanha. O resultado é de uma beleza gélida, de uma crueldade extrema para com os nossos nervos. The Fall devia vir junto com um contêiner de chá de camomila, caros leitores.
Uma mulher que devora homens sem ser exatamente uma admiradora deles, um homem que destrói mulheres por não suportar a ideia de que alguém nesse mundo seja feliz. Se isso não é argumento shakesperiano, o que mais será?
The Fall é Shakespeare de ótima qualidade, apenas com uns séculos de atraso. Ver algo assim é compreender melhor o caminho que a nova televisão já encontra, e que a inglesa começa a chamar de seu. O drama, meus caros leitores, tem nome, e ele agora se chama The Fall. Viva a BBC, e vamos em frente.
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