Referência para muitos artistas, desde respeitados nomes do meio literário até diretores de filmes de horror, H. P. Lovecraft reúne um rol de admiradores tão heterogêneo quanto seleto. O recluso autor americano, no entanto, não teve a sorte de ter tamanho reconhecimento em vida, morrendo aos 46 anos, em 1937, vítima de um câncer, com um único livro publicado, A Sombra de Innsmouth (1936), e dezenas de contos em revistas pulp.
A história do mestre da literatura fantástica agora pode ser melhor conhecida pelo público brasileiro com a biografia A Vida de H. P. Lovecraft (Hedra, 446 páginas, R$ 59,90), do crítico literário e editor S. T. Joshi. O lançamento chega ao mercado junto com outro importante recorte da obra do autor, o calhamaço Os Melhores Contos de H. P. Lovecraft (Hedra, 742 páginas, R$ 79,90). E o escritor parece estar mesmo em alta nas livrarias, que receberam nos últimos meses uma edição de Nas Montanhas da Loucura e Outras Histórias de Terror, pela L&PM, e reedições das coletâneas de contos A Maldição de Sarnath, À Procura de Kadath e O Horror em Red Hook, pela Iluminuras.
O essencial: confira três dicas de leitura de H. P. Lovecraft
Além do apurado trabalho de pesquisa, um dos méritos do livro de S. T. Joshi é não cair na exaltação exagerada do biografado. O pesquisador descreve Lovecraft como um leitor prodigioso desde a infância, capaz de compor versos inspirados em histórias da mitologia grega aos seis anos; mas não deixa de explorar também a maior mancha da carreira do escritor: a xenofobia e o preconceito racial. Mesmo no fim da vida, ele é descrito como pouco tolerante aos que não comungavam de seus valores, baseados na aristocracia inglesa.
Já a seleção de textos de Os Melhores Contos pretende apresentar seus trabalhos mais importantes e pode servir como uma boa introdução ao autor. Com mais de 700 páginas, tem espaço para 19 histórias, incluindo textos mais longos como as novelas A Cor que Caiu do Espaço e Nas Montanhas da Loucura.
Para o tradutor Guilherme da Silva Braga, que versou para o português este e outros títulos editados pela Hedra, Lovecraft sabia impactar seus leitores, além de ter criado uma mitologia própria, repleta de entidades cósmicas:
- Na maioria das vezes, os finais das tramas são perturbadores, surpreendentes, ambíguos e dotados de um acabamento genuinamente literário.
Entre os nomes da literatura que afirmaram sofrer influência direta de Lovecraft, estão Jorge Luis Borges, Michel Houellebecq e Stephen King. Já no cinema, Stuart Gordon, John Carpenter e Guillermo del Toro citam o americano como uma de suas principais fontes de inspiração - Del Toro tem um projeto para filmar Nas Montanhas da Loucura, sem data para execução.
Cesar Silva, especialista em ficção científica e editor do Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica, avalia que as ideias filosóficas e científicas implícitas na obra de Lovecraft permanecem mais influentes do que seu modo de narrar:
- É uma influência que se refere aos conceitos cosmológicos, porque o estilo narrativo de Lovecraft não goza de muitos discípulos por ser demasiadamente verborrágico e adjetivista. Nem Edgar Allan Poe, que antecedeu Lovecraft em quase um século, era tão barroco.
A VIDA DE H. P. LOVECRAFT
De S. T. Joshi
Biografia, Hedra, 446 páginas,
R$ 59,90. Tradução de Bruno Gambarotto. Venda exclusiva na Livraria Cultura
OS MELHORES CONTOS
De H. P. Lovecraft
Contos, Hedra, 742 páginas,
R$ 79,90. Tradução de Guilherme da Silva Braga. Venda exclusiva na Livraria Cultura