Angelina Jolie se cercou de tudo o que parecia necessário para emplacar um dos mais badalados filmes da temporada, desta vez na direção: uma história real de superação daquelas que não se veem a toda hora, escrita pelos irmãos Ethan e Joel Coen e transformada em uma das principais apostas da Universal na corrida do Oscar - não foi à toa que o estúdio decidiu lançá-la nesta época, usualmente destinada aos postulantes aos prêmios de melhores do ano. Invencível chega nesta quinta-feira ao Brasil, poucos dias depois da estreia nos EUA. É baseado em um best-seller literário, que narra a trajetória do atleta olímpico Louis Zamperini, morto em 2014, aos 97 anos.
No primeiro terço de seus 137 minutos, as coisas vão bem, com relatos bem costurados de sua juventude e a rotina nos campos de batalha durante a II Guerra Mundial. Zamperini teve ascensão meteórica no atletismo, mas a promissora carreira no esporte foi brecada pelo conflito que cindiu o planeta ao fim da década de 1930 - época em que ele mal contava 20 anos de idade. É nesse ponto, quando passa a acompanhar exclusivamente sua rotina no front (leia abaixo), que a trama se torna arrastada, cansativa. Reiterativa de suas agruras, como se quisesse reafirmar, a todo instante, o quanto o homem foi invencível.
Saem as belas imagens de reconstituição de época - há até uma recriação digital do ambiente no Estádio Olímpico de Berlim, sede dos Jogos Olímpicos de 1936 -, entra o martírio sem fim do personagem, potencializado pela atuação intensa do bom Jack OConnell. Isolado no oceano (com dois parceiros) após a queda do avião em que estava, feito de gato e sapato pelos japoneses que o encontraram, Zamperini protagonizou uma resistência semelhante à de Eric Lomax (1919 - 2012), contada na produção britânica Uma Longa Viagem (2013), que está em cartaz em Porto Alegre.
Em ambos os filmes, há mocinhos e bandidos muito bem definidos - estes últimos são os discípulos do imperador Hirohito. Ainda mais do que Uma Longa Viagem, Invencível tem provocado a ira inclusive de historiadores no Japão, pelo modo cruel como retrata o tratamento imposto pelas forças armadas do país aos prisioneiros da II Guerra. Quem está certo? Em uma guerra, o ponto de vista pode fazer a diferença. O de Zamperini é defendido com unhas e dentes por Angelina Jolie no filme que ela dedica a este herói norte-americano.
Quem foi Louis Zamperini (1917 - 2014)
Filho de imigrantes italianos que sequer falavam inglês, foi um corredor precoce: em 1934, bateu o recorde intercolegial na corrida de 1 milha, o que lhe garantiu, dois anos depois, a vaga de mais jovem atleta dos EUA nas Olimpíadas de Berlim de 1936. A medalha de bronze no evento lhe deu esperanças de alcançar o topo nos jogos de Tóquio em 1940 - que, no entanto, foram suspensos em decorrência da II Guerra Mundial.
Zamperini se alistou no Exército e foi enviado à frente dos aliados no Pacífico em 1941. O avião em que estava caiu, e ele permaneceu em alto-mar, junto a dois companheiros, durante 47 dias. Quando veio o resgate, má notícia: eram os japoneses, que o fizeram prisioneiro e o submeteram a trabalhos forçados até o fim do conflito, em 1945.
Nesse meio-tempo, chegou a ser dado como morto no Ocidente. Mas viveu até os 97 anos, tendo inclusive tempo de realizar o sonho de participar de uma edição dos Jogos Olímpicos no Japão: aos 81 anos, em 1998, carregou a tocha olímpica nas Olimpíadas de inverno de Nagano.
Invencível
De Angelina Jolie.
Drama, EUA, 2014.
Duração: 137 minutos.
Classificação indicativa: 14 anos.
Estreia nesta quinta-feira nos cinemas.
Cotação: bom